Trocando figurinhas

 


Tenho escrito alguns textos sobre a “era dos correspondentes”, um período antes da chegada das TVs à região e antes, bem antes da internet. Esse é mais um ...

 

Os correspondentes dos “jornalões” eram competitivos, brigavam pelas pautas, batalhavam por uma informação exclusiva que garantisse um “furo”, uma manchete, uma matéria que abalasse “Bangu”. Dar um “furo” nessa concorrência top era o máximo. Tomar um “furo”, uma lástima. Dor que só tinha um remédio para curar: dar um “furo” em cima do “coleguinha”. Devolver “furo” com “furo”, era a regra geral. Mas, mesmo nesse universo competitivo, os correspondentes cultivavam uma coisa especial: a camaradagem. 

 

Não raro, colegas de veículos concorrentes “trocavam figurinha”, isto é, dividiam informações, conversavam sobre suas matérias, atualizavam a “agenda setting”. A senha era uma frase curta: "qual o lidão?", uma referência à palavra "lide", o primeiro parágrafo de uma reportagem, onde estão, quase sempre, as informações principiais da matéria: o que, quem, onde, quando e porque. "Lidão" era a informação quente, a boa pauta do dia.

 

Em pautas comuns, como na cobertura das eleições presidenciais de 89, muitas vezes andávamos juntos, por exemplo, na “cola” do enxame de candidatos que cruzavam a região –Fernando Collor, Lula, Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf, entre outros. Assim foi também na cobertura da greve dos metalúrgicos de 85 e no desaparecimento do escoteiro Marco Aurélio em Piquete. E cada um fazia o seu trabalho, escrevia o seu texto, batalhava a sua “exclusiva”. Trabalhei, assim, lado a lado com Flávio Nery (“Estadão), Eustáquio de Freitas (”O Globo”), Wagner Matheus (“Diário Popular”), para citar apenas alguns nomes. 

 

Troquei muita, muita “figurinha” com Luiz Grunewald, o Luizinho, secretário de Redação do antigo “ValeParaibano” e, depois, chefe de Reportagem da TV Globo Vale do Paraíba, precursora da TV Vanguarda. Ninguém “entregava o ouro” para ninguém, a informação exclusiva continuava exclusiva, mas, dia sim, dia não, conversávamos, quase sempre por telefone, e, às vezes, um dava um “toque” no outro sobre um assunto comum ou algo que fosse do interesse do outro veículo. Nydia Natali, toda-poderosa chefe de Reportagem do “VP” durante anos, entrava na roda e funcionava como agenda, fonte, origem de  muitas reportagens que os correspondentes emplacavam nos “jornalões”. E ria de orelha a orelha quando o bom e velho “ValeParaibano” furava aquele batalhão de correspondentes, obrigados a correr atrás de uma exclusiva trazida pelo jornal regional.

 

Isso criou uma relação de amizade, camaradagem e, principalmente, respeito entre os “rivais”, que, na maioria dos casos, dura até hoje. 

 


Comentários

  1. Que beleza. Eu fiquei um tempo na sucursal do vale paraibano em Caraguatatuba de outubro a dezembro de 1981 mais ou menos. Em 85 fiz um ano o jornal do vale do Boueri Neto e do Robson Marinho. Tempo bom .

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