O brilho do bronze

 

 

Sofri muito com a perda dos meus pais, mortos com a diferença de pouco mais de dois meses. Encontrei apoio na família, na tarefa diária de organizar e guardar seus objetos pessoais e na leitura de um livro em especial, uma reflexão sobre a vida e a morte. A obra é “O Brilho do Bronze”, de Boris Fausto.

 

Editado pela Cosac & Naif, ela é um diário, feito de lembranças e detalhes, escrito após a morte de Cynira Stocco, com quem o autor foi casado por 49 anos.

 

Reli o livro em janeiro, quando fui à minha terra, Piraju, no aniversário de 8 anos da morte de meu pai, Hélcio. Limpei a sepultura onde estão enterrados meus pais, renovei as flores e, em um banco a poucos metros de túmulo, abri “O Brilho do Bronze”, sob a sombra de uma árvore frondosa que existe ali, batida pelo um vento suave da manhã. Reli trechos saltando, aqui e acolá. Fiz isso por dois dias seguidos, sempre no começo das manhãs. Na obra, Boris Fausto mergulha, vulnerável, nesse mar de mistérios que é a morte. Apesar do tema, não é um livro triste. Ao contrário. Nem foi a tristeza que me trouxe até ali., mais uma vez. Ali, duas vezes ao ano, tiro um tempo só meu, destinado a fazer uma reflexão sobre a vida e sobre o muito que ela me deu. E admito: ela sempre me foi generosa. Voltando ao fio da meada, eu, raso, creio que a morte é o fim. Não enxergo algo além dela. Minha mãe, Maria Nívia, pensava diferente. Quis ser enterrada em sua terra, ao lado das pessoas que amava. Em memória dela e de meu pai, renovo ali, de quando em quando, meu compromisso com a vida. E sigo em frente.

 

Este ano, janeiro teve uma dor a mais: perdi um tio muito querido, Gabriel, irmão de minha mãe. Dos oito filhos de Dona Durcê, minha avó, ficaram quatro.

 

Mas janeiro, mesmo com tantas dores e perdas, termina, para mim, sempre com um sorriso no rosto e um sabor de felicidade. O fim do mês, pouco antes de fevereiro surgir, traz o aniversário do meu filho Guilhermo, espantando qualquer escuridão, mesmo a mais profunda, que possa pairar sobre o calendário. Este ano ele fez 42 anos. É a vida dizendo, de forma simples, que ela é teimosa e se renova; que, depois do choro, vem o riso; e que, depois do adeus, vem um olá. O melhor de tudo é que o calendário guarda para mim outras datas e outros aniversários a festejar ao longo do ano. Só de filhos, ainda têm aniversário do Julio (está chegando, é logo ali), da Marina, do Felipe. Ainda têm os amigos, os amores que a vida nos presenteia, parentes queridos, do fundo do coração. Não é esse o segredo da vida, entender seu ritmo e seguir? Do livro, fica uma lembrança suave, de que, da dor, o autor extraiu o estímulo de seguir e de continuar escrevendo boas histórias, sua arte e ofício. Depois de “O Brilho do Bronze”, de 2014, Boris Fausto (aliás, corintiano, como eu) lançou, em 2021, a obra “Vida, Morte e Outros Detalhes”, pela Companhia das Letras, escrito após a morte do irmão, Ruy. Li e recomendo.

 

Como o anterior, não é um livro triste ...

 

 

 


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