Emanuel e as roçadeiras

 


O ex-prefeito Emanuel Fernandes reuniu mais ou menos de 60 pessoas na manhã do primeiro sábado de fevereiro para falar sobre política.

 

Na prática, foi a primeira “aula” de um curso para formação de lideranças que ele e o ex-deputado Eduardo Cury (PSDB) planejam fazer ao longo do ano. Logo de cara , Emanuel avisou: “não sou candidato a nada”. É um aviso necessário, afinal, no imaginário coletivo de São José dos Campos, ele ainda figura como um dos melhores prefeitos (se não o melhor) que a cidade já teve. Esse “recall” é fácil de ser sentido, até pelas pessoas que cruzaram a Praça do Sol, na Vila Adyanna, durante a “aula”. “Esse é aquele ex-prefeito?”, perguntou uma mulher jovem que passeava com o cachorro. “Ele vai ser candidato?”, inquiriu outro passante. Não, Emanuel não está ali como candidato. Está como Emanuel, ex-prefeito, ex-deputado, ex-secretário de Estado, estudioso, falando sobre o que ele gosta: política. Antes da pandemia, que o isolou em casa, Emanuel já fez isso --falou sobre política em praças, parques e “lives”. Na verdade, todos esses debates remontam a tempos atrás, quando jovens entusiastas se reuniam às quintas e sextas-feiras para discutir política no apartamento de Emanuel e Juana Blanco, sua mulher, bem mais conhecida do que ele à época. Nessas reuniões nasceu a base de um novo jeito de pensar política na cidade, a “revolução” administrativa e política que fez escola a partir da primeira gestão de Emanuel (1997/2000). Uma escola de onde saíram Cury e grande parte das lideranças tucanas (e ex-tucanas) da cidade. Antes que esse tema, os ex-tucanos, entre na discussão, Emanuel avisa: “Não vim falar de política partidária, nem de polarização, nem de questões locais”. Ele veio falar de política, a política como instrumento de transformação.

 

Para isso, seguiu um roteiro anotado a caneta em uma folha de caderno e encarou com bom humor o barulho de aviões na rota de descida do aeroporto, do trânsito urbano (buzinas aqui e ali) e de duas equipes de trabalhadores da Urbam, que faziam a poda de mato nas ruas vizinhas. “Secretário, diz lá na prefeitura para parar”, alguém gritou em direção a Alexandre Blanco, enteado de Emanuel e  atual assessor de projetos especiais do governo Anderson Farias (PSDB), que acompanhava a “aula” ao lado do relógio de sol que batiza a praça. Risada geral. Emanuel aproveitou um descanso das equipes da Urbam para lembrar de um caso antigo. Tempos atrás, disse ele, ainda prefeito, teimou em plantar algumas flores no canteiro da calçada em frente ao prédio onde morava, na avenida 9 de Julho. “Não eram flores bonitas”, admitiu. Um dia, disse, descobriu que seu jardim foram podado até o talo por uma equipe de limpeza urbana. Nova risada geral. Frente ao debate de ideias e às flores da calçada, as roçadeiras são imperdoáveis, pelo jeito.

 

Para ouvi-lo falar sobre experiências como essas e sobre as suas reflexões sobre administração e política, as pessoas ficaram em pé por mais de 1 hora e 20 minutos. Algumas levaram cadeiras de praia; outras,  banquinhos. Uns dividiram o cimento lateral no relógio de sol. Uma ala, mais jovem, sentou no chão. Ouviram elogios ao protagonismo pessoal, ao espírito comunitário e ao bom exemplo. “Mudar é possível”, disse. Ouviram frases como: “Só eleição não basta; é preciso criar valores”; “Não adianta mudar o ordenhador, a vaca é a mesma”. Conheceram pensadores contemporâneos, como Nassim Nicholas Taleb, ensaísta e empreendedor líbano-americano, autor de “A Lógica do Cisne Negro” e “Antifrágil”, que trata das incertezas e dos  eventos imprevisíveis. Foi um momento “Diálogos de Platão” no coração da Vila Adyanna. Ao final, muitos tiraram selfies ao lado de Emanuel.

 

Na plateia, gente conhecida, como Eduardo Cury, companheiro de Emanuel nessa jornada de formação política, e o deputado estadual eleito Doutor Élton (PSC), além  dos vereadores Dulce Rita (PSDB), José Cláudio (PSDB), Walter Hayashi (PSC) e Thomaz Henrique (Novo). Ex-vereadores também bateram cartão, como, por exemplo, Dilermando Alvarenga e Sérgio Camargo (ambos do PSDB), ao lado de ex-secretários da gestão Emanuel, como Aydano Carleial e José Liberato Junior, e do jornalista Luiz Paulo Costa. José de Mello Corrêa, presidente do PSDB em São José dos Campos, não podia faltar. E veio muito, muito mais gente.

 

Novas “aulas” virão, disse Emanuel ao final, ao lado de Cury, agradecendo à presença das pessoas.

 

Talvez em um lugar um pouco maior e, quem sabe, menos barulhento. Talvez transmitidas em uma “live”, para alcançar mais gente ainda. Talvez com Emanuel já filiado, de novo, ao PSDB, partido que ajudou a estruturar na cidade. Com tanto talvez, uma coisa pelo menos é certeza: anos e anos após ter deixado a vida pública, Emanuel ainda encanta ao falar sobre política. Mas não se entusiasme, ele já avisou: não é candidato a nada. O que, com toda certeza, é uma pena ...

 


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