Pecados, pecadões e pecadilhos
Em 2021, o Orçamento Secreto movimentou R$ 16 bilhões. É um dinheirão em um país onde uma multidão faz fila para comprar osso.
Os dois casos, verbas secretas e fila de fome, são reflexos do buraco em que o Brasil se enfiou. O país deu as costas ao cidadão e transformou em valores vazios termos como responsabilidade fiscal, transparência, direitos humanos, lapidados por décadas como valores essenciais à sociedade. O Brasil do Orçamento Secreto é o mesmo Brasil onde o presidente decreta sigilo de 100 anos sobre dados banais de governo, mandando para a cucuia a obrigação de dar conhecimento público a seus atos. Ora bolas, presidente, deputados ou qualquer ocupante de cargo público, ninguém é dono do Estado. Todos exercem um poder delegado, uma procuração recebida do cidadão por meio do voto. É o cidadão --e não o político-- o detentor do poder. Um dia já foi assim, mas, hoje, isso se perdeu.
E não é só em Brasília.
Em São Paulo, o governador João Doria direcionou seu mandato atrás do sonho de ser candidato a presidente. E esse xadrez não exclui São José dos Campos, onde a questão de valores tem sido uma baliza de governo desde Emanuel Fernandes. Essa baliza verga quando o governo trata, por exemplo, de forma sigilosa o caso das blogueiras quer treinaram tiro ao alvo no estande da Guarda Municipal. Pode isso, Arnaldo? Frente aos pecados mortais da esfera federal, esse parece um pecado menor, venial. É e não é. Pecados, pecadões e pecadilhos têm, quase sempre, a mesma essência na política: a falta de limites entre público e privado, aliada à falta de transparência. Se vamos sair do buraco em que o país se enfiou, temos que devolver o cidadão e os valores republicanos ao centro do palco. Sem pecado, nem perdão.
Este artigo foi publicado originalmente no jornal "O Vale"
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