Valeu por tudo (*)

"Vale Tudo", a cara do Brasil

Com a morte de Gilberto Braga, o país perde uma das pessoas que ajudou o Brasil e os brasileiros a entenderem melhor seu caráter, seus fantasmas e seus sonhos.

Embora afastado das telas há tempos, Braga deixa uma obra vasta e está, com certeza, entre os principais autores brasileiros de novelas e dramas televisivos, com títulos que vão de "Dancin Days" a "O Dono do Mundo", de "Celebridades" à dose dupla "Anos Dourados"/"Anos Rebeldes". Não sou especialista em novelas, nem sei direito o nome das que passam hoje. Mas me recordo de uma obra de Gilberto Braga, "Vale Tudo", que mexeu com corações e mentes brasileiras no final dos anos 80. No embate entre Odete Roittman, Maria de Fátima e Raquel Aciolly (vividas por Beatriz Segall, Glória Pires e Regina Duarte; essa, bem antes de sua fase Bolsonaro), "Vale Tudo" provocou uma catarse no país, uma briga entre o bem e o mal em horário nobre de TV, duelo que terminou com uma cena antológica: o milionário Marco Aurélio (Reginaldo Faria) fugindo de helicóptero e dando uma "banana" para o Brasil. O mau-caráter da trama escapou ileso e ainda fustigou a todos nós.

A perda de Gilberto Braga abre diversas reflexões, que podem ir da banalidade das tramas televisivas atuais à perda de poder da própria TV. Mas não é nenhuma dessas que me interessa.

No Brasil de hoje, com tantas crises, divergências e problemas, onde a linha entre o bem e o mal está tão tênue para muitos, talvez, talvez (eu digo talvez) precisássemos de outra "Vale Tudo", para expor ao vivo e cores, em horário nobre, os dramas e desvios do país real. Nem que fosse só pela oportunidade de repetir a linda trilha sonoro de abertura da novela original, "Brasil", de Cazuza, George Israel e Nilo Romeu, interpretada por Gal Costa. "Brasil, mostra a sua cara", cantava Gal. Uma boa homenagem a Gilberto Braga seria a gente mostrar a nova cara do Brasil. Talvez a gente assuste com ela, mas enxergá-la já é um bom começo para mudanças.

Segue o baile ...

(*) Esse título, "Valeu por Tudo", é da edição impressa de hoje (27.10) do jornal "Correio*", de Salvador (BA), na chamada sobre a morte de Gilberto Braga. Uma prova que a imprensa inteligente, competente e antenada ainda continua viva. Como cantam os Titãs, o pulso ainda pulsa ... 

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