A cidade invisível mostra a sua cara

 


Na última segunda-feira (13.09), São José dos Campos teve um duro choque de realidade quando se confrontaram duas cidades distintas: a São José da qualidade de vida e dos altos índices socioeconômicos e a São José que vive fora dos limites sorridentes da propaganda oficial.

Durante 5 horas, o entorno do complexo da Santa Cruz 1 e 2 virou uma praça de guerra, com barricadas, carros queimados, depredações, tiros e muito corre-corre. Lojas fecharam mais cedo, vídeos com as cenas da violência tomaram conta das redes de WhatsApp, mensagens nervosas alertavam os  motoristas: evitem o Anel Viário. As avenidas Fundo do Vale e Nelson D`Ávila, importantes corredores de acesso a diversas regiões da cidade,  foram fechadas. Tudo isso a menos de 200 metros de distância do Paço e da Câmara Municipal. Motivo: um violento protesto dos moradores da Santa Cruz contra a morte de um jovem em confronto com a PM. Um bandido, segundo a polícia. Uma execução, segundo a família.

Independentemente do grau de verdade de cada versão, o incidente traz à tona um tema importante, quase nunca encarado de frente: o que fazer com os núcleos de favela encravados no centro da cidade? Afinal, ali na Santa Cruz, assim como na complexo da Nova República, moram centenas de famílias que merecem ter condições dignas de habitação, saúde, saneamento básico. Mas que também convivem com um ambiente de violência, sob o jugo do tráfico de drogas. Como garantir os direitos essenciais dos moradores desses núcleos e, ao mesmo tempo,  reduzir a influência do crime? Em seu primeiro mandato, Felício Ramuth (PSDB) prometeu transferir as famílias da Nova República, oferecendo aluguel e outros benefícios. Numa entrevista ao blog dois: pontos, Felício garantiu que a Nova Esperança seria outra, até o fim de seu primeiro mandato. Não foi. Esbarrou na resistência dos moradores e na Justiça. Era uma boa ideia, mas ficou como está. Faltam soluções reais. E não isso é de hoje. 

No governo Emanuel Fernandes (PSDB) parte da Santa Cruz foi retirada (em seu lugar existe hoje uma unidade da Fundhas), com os moradores transferidos para os predinhos do  conjunto Henrique Dias, transformados, rapidamente, em bunker do tráfico. E, bem antes, Sérgio Sobral de Oliveira, prefeito biônico dos anos 70, teve a brilhante ideia de murar a Santa Cruz, para “esconder” os barracos. Ilusão. O muro pintado de branco virou parede e ali está, até hoje, símbolo de uma má ideia. A questão dos núcleos da Santa Cruz e do Banhado, assim como da habitação de baixa renda, continuam a desafiar a cidade. Nenhuma solução foi eficaz, basta olhar os casos do Pinheirinho dos Palmares (onde nem a PM entra à vontade), São José 2. Tudo isso somado a áreas fora da influência do poder público, como o “delivery” do tráfico no Campos dos Alemães, surge uma cidade paralela, avessa à imagem que tanto orgulha a população.

Quando vamos encarar esse problema?

São José é uma cidade diferenciada, que se orgulha de sua qualidade de vida, apontada em diversas pesquisas e levantamentos. Sim, bom mesmo é morar em São José. Mas, infelizmente, o slogan otimista da propaganda oficial não é real para toda a comunidade. E precisa ser. Esse é um debate que exige coragem. Mas vale a pena.

Segue o baile ...

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