O que assusta é o deserto




Não, não foram os palavrões.

Sei que tem gente que não gosta, sei que tem hora certa de usar, mas palavrões nunca me assustaram e não me assustam. Eu mesmo cometo meia-dúzia de 3 ou 4 deles nas conversas com os amigos ou assistindo aos jogos do Corinthians. Nas Redações, durante o estresse dos fechamentos de edição, então, nem se fala. A meia-dúzia de 3 ou 4 ganha mais uma casa decimal fácil, fácil.

Não foram, portanto, os palavrões ...

O que mais chamou a minha atenção no vídeo da famosa reunião ministerial foi outro detalhe, bem mais grave que os 38 ou 39 palavrões ou expressões chulas ditas pelo presidente Jair Bolsonaro, com uma eloquência capaz de deixar Dercy Gonçalves chocada. Veja bem: estavam reunidos em volta da mesa os personagens mais importantes do governo federal, o debate durou horas, muitos falaram e, salvo alguns pitacos aqui, outros ali, o que chama a atenção –grita-- é o vazio, a falta de ideais, o mais absoluto deserto de projetos, planos, propostas viáveis e concretas para um país continente, cheio de desafios, problemas e mazelas chamado Brasil.

Claro, teve o passa-boiada do ministro Ricardo Salles, o prendo-e-arrebento do mal-educado Abraham Weintraub e Bolsonaro pedindo unidade da equipe na defesa do governo. Mas só ...

O Brasil contaminado pela virulência da pandemia do novo coronavírus e esse tema só tangencia a reunião. O PIB sofria nocaute técnico e isso era tratado em plano terciário em um projeto meio sem pé nem cabeça, batizado de Pró-Brasil, ainda em fase de construção. Governos de todo o mundo liberando recursos para salvar suas economias e Paulo Guedes, professoral, pregando o Estado Mínimo. O Enem fazendo água por todos os lados e o ministro da área defendendo prender os ministros do STF. O país à beira de uma crise institucional e o presidente preocupado apenas em defender seus filhos e seus amigos, afastando qualquer ameaça potencial de seu caminho.

É só isso? Mesmo?
O Brasil, seus problemas e desafios (que são imensos), se limitam a isso?

Tem gente que se escandalizou com os palavrões. Outros com a truculência. Eu não. Eu me escandalizei foi com a inépcia daquela gente engravatada e opaca. Frente a isso, só soltando um sonoro “puta que pariu” ...

Comentários

  1. Como sempre muito bem pontuadas suas observações, Mister!
    Elas [observações] me remetem ao Rei Sol, Luiz XIV ( vestigios de comparações e de meras coincidências absolutistas) claro , vivemos numa democracia de Estado e de Direito, né? Porém , com a insana frase:"L'État C'Est Moi - O Estado sou eu ".
    Abraço!

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