Bom dia, sexta-feira



Sai para caminhar de manhã. O termômetro marcava 8 graus. 
Estava com saudade do frio. Submersos no lençol leitoso que cobria toda a rua e deixava a manhã com a cara de um sonho, meus passos não tiveram eco. A cidade acordava, mas em silêncio.



Eu adoro calor. Mas estava com saudade do frio.



O frio me fez companhia sempre. Na minha terra, pequeno, gostava de ver a neblina subir, lenta, desenhando em luz e sombra o contorno das árvores da praça Ataliba Leonel, vencida pelos raios de sol. Em Cruzeiro, a manhã fria tinha cheiro de torradas, feitas pela minha mãe. Em Curitiba, estudante, submergia na rua deserta em direção à Cidade Universitária, com os olhos ainda carentes de sono. Era dia? Era noite? Não se via o outro lado da rua, mas era importante seguir. De volta à minha terra, uma visão que não me abandona: a neblina emergiu da plantação de café como um fantasma, dançando ao sabor do vento e do sol que acabava de raiar. Quase sólida. Quase sonho. Em São José dos Campos, adulto, a neblina esconde o Banhado. Da Orla se avista um mar, de nuvens. Na Mantiqueira, repórter, o dia sumiu no topo da Pedra do Careca, varrido por uma nuvem baixa. Naquele instante, o mundo parou. Todos paramos. A um passo, o precipício. A morte.



Volto para casa e olho pela varanda: não dá para ver a serra. A cidade acaba ali, num telhado próximo.



O pão fresco, quente, comprado na breve jornada através da neblina, deixa a cozinha com cheiro de casa. Do café emerge uma fumaça sonolenta, cujo aroma convida a uma, duas xícaras. A cidade começa a emitir sons diferentes. A neblina começa a subir, lenta. Do telefone surgem mensagens, trabalho, recados. Estava com saudade do frio. Agora sim começa a sexta-feira.

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