Qual é a graça, presidente?

Dois Bozos?

por Marcos Meirelles


Todo presidente brasileiro tem um pibinho para chamar de seu. E Jair Bolsonaro já tem o primeiro pibinho do currículo, logo no primeiro ano de governo. 
Um dos maiores problemas do pibinho de Bolsonaro é que ele vem ancorado na frustração da varinha mágica na economia, que seria conduzida pelo “posto Ipiranga” Paulo Guedes. O ministro muito prometeu, falou mais do que deveria e acabou não entregando o que o brasileiro mais queria: o país de volta, de forma consistente, à rota do crescimento econômico com ambiente propício para investimentos, mais empregos e mais renda.
Fiel ao seu estilo, Bolsonaro celebrou o pibinho com uma piada de mau gosto: chamou um humorista para distribuir bananas aos jornalistas no cercadinho do Planalto. Já o “Posto Ipiranga” continuou com prestígio entre os banqueiros, satisfeitos com os lucros recordes. 
Assim, aqui e acolá, a claque se satisfez, mas a expectativa de que o país possa avançar em reformas que propiciem à “economia real” um ambiente mais favorável, no entanto, é quase nula.
No campo econômico, a travessia de 2020 será complicada, assim como foi 2019. No campo político, o cenário é ainda mais sombrio.
A convocação de manifestação em defesa do presidente, para o próximo 15 de março, intensifica o isolamento ideológico do governo. Bolsonaro só pensa na reeleição e sua família aposta todas as fichas na radicalização do cenário político como ferramenta para retroalimentar a milícia virtual e manter o “capitão” no páreo por um novo mandato.
É do jogo. Mas é também do jogo que os ocupantes de cargos públicos respondam por crime de responsabilidade quando colocam em xeque as instituições democráticas. Haverá alguém no Judiciário ou no Congresso com disposição de fazer valer esta regra e enfrentar a fúria das milícias?
A cada lance de radicalização de Bolsonaro, seus eleitores fiéis estufam o peito e renovam seus votos de confiança no “capitão”.  Não há nada que sinalize limite para a distribuição de veneno pelas redes sociais, o que pode contaminar, inclusive, a disputa eleitoral nos municípios, este ano.
Na economia e na política, portanto, temos que nos preparar para o pior.

Marcos Meirelles é jornalista. Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale" 

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