Bozo é Jânio de mau humor



Cabeça vazia é a oficina do diabo, já dizia padre Rinaldo Rezende, hoje pároco da Matriz de Santana, em São José dos Campos.
, em seus sermões de domingo.

Estava zapeando a TV tempos atrás quando vislumbrei uma sequência de imagens do presidente Jair Bolsonaro, que, juntas, resultaram em um mosaico de caras e bocas. De estalo, me veio à mente outro presidente, Jânio Quadros. Busca no Google e bingo: diversas imagens de Jânio remetem a expressões faciais semelhantes de Bolsonaro. Com uma diferença: Bolsonaro é um Jânio de mau humor. Verdade. A maioria das fotos mostra Bolsonaro de cara fechada. Jânio não era o “senhor sorriso”, mas, com o tempo, sua imagem acabou sendo diluída pelo folclore político e suavizada. Bozo é Jânio de mau humor. Ponto final. Registrei isso dias atrás em um comentário semanal que faço na Rádio e TV Imprensa. Pois é. A história não acaba aí. Esta semana me deparei com outra foto, bem recente, que deixa isso mais evidente: um registro do repórter-fotográfico Pedro Ladeira, da “Folha”, que mostra Bolsonaro com os pés voltados para dentro, em pose idêntica à foto célebre de Jânio, que rendeu um Prêmio Esso a Erno Schneider (na época, no "Jornal do Brasil") em 1962 e virou a imagem do descompasso de um governo curto e contraditório, que mudou –para pior-- a história do país.  Toc, toc, toc, bate na madeira. Grande frasista, Karl Marx (só de ler esse nome, os bolsominions vão espumar de raiva) dizia que a História se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Espero que a ligação Jânio-Bozo não passe de coincidência.
, divagações da minha cabeça.

Bem, será?



Além da renúncia, que lançou o país em um turbilhão político que acabou por mergulhar o Brasil em um dos períodos mais plúmbeos de sua história, Jânio fez um governo polêmico, calcado em uma pauta conservadora, com acenos populistas. Condecorou Che Guevara, proibiu o lança-perfume nos bailes de Carnaval e biquínis em concursos de miss na TV, além de ter fechado o cerco às rinhas de galo. Fez mais: governava por memorando, inspirado em Winston Churchill, memorandos que, no Brasil, viraram os famosos "bilhetinhos" de Jânio e tinha uma predileção por palavras difíceis, construções gramaticais fora da curva e mesóclises. "Fi-lo porque qui-lo", teria dito, uma vez, a um repórter. De resto, sonhou em voltar ao poder nos braços do povo após uma renúncia mandrake. Não deu certo. Faltou povo, o Congresso reconheceu a vacância do cargo de presidente da República e, o resto, é história. Bolsonaro também tem lá seus lampejos antidemocráticos, sonha em exterminar a oposição e coleciona em seu panteão um leque de ditadores e torturadores capazes de fazer a série “Game of Thrones” parecer “Vila Sésamo”. Mas, como sou eterno otimista, espero, que o Brasil atual tenha instituições e sociedade menos voláteis que o Brasil de 1962. E torço para que a ligação Bozo-Jânio não tenha passado de um lampejo fugaz na minha mente. 

Afinal, como dizia padre Rinaldo, cabeça vazia é a oficina do diabo.



Comentários

  1. Caro Hélio, todo pesadelo, num dado momento, tem algo de lúdico. Neste sentido, seu texto, no melhor estilo analítico do rir para não chorar, revela similaridades em que o torto vai além do passo, pois contorce tudo no descompasso. Sim, os devaneios de Jânio abriram a Caixa de Pandora que já estava sem tranca desde o contragolpe dado pelo Marechal Lott, garantindo a posse de JK. Só discordo de uma observação: a de que o psicopata que desgoverna o país possui "lampejos antidemocráticos". No meu entender ele é o ícone do desmonte da democracia. Jânio pegou a pastinha e se mandou. Já o espectro que ocupa o Planalto no momento, ele próprio é a centelha de algo que pode afundar este país num obscurantismo sem precedentes. Jânio, embora reacionário e um tanto despótico, não tinha essa verve canalha e fascista. Desculpe Hélio, está muito difícil ser otimista. Seu "lampejo fugaz" pode sim, infeliz e terrivelmente, representar uma premonição de que o pior pesadelo ainda está por vir. E não somente por culpa do sujeito cujo nome me recuso a mencionar, mas sim por conta de quem o colocou no poder, cujas cabeças vazias são oficina tanto do diabo quanto do Olavo.

    Paulo Vasconcellos - Taubaté - SP

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