Vagabundos, traíras e mortadelas



Doria e Bolsonaro: o amor acabou?

A julgar pelo linguajar que dominou o debate político da semana, o Brasil seria um país de vagabundos e traidores. Será?

O blá-blá-blá da semana começou quente com o governador João Doria (PSDB) respondendo com impropérios à vaias que recebeu de militantes pró-Bolsonaro em Taubaté. Chamado de Pinóquio, Doria subiu nas tamancas: “Vai pra casa, vagabundo! Vai comer mortadela com a sua mãe.” Não contente, insistiu: “Vai cobrar do Major Olímpio seus ‘duzentinho’ pra vir aqui falar bobagem no microfone. Vai pra casa, aposentado.” Não pegou nada bem. Criticado até por aliados, Doria divulgou vídeo, no dia seguinte, em que volta ao estilo “bom moço” e pede desculpas. “Acabei me excedendo”, disse, de terno e cabelo arrumadinho, diferente do Doria virulento e suado da véspera, que azedou o caldo do Festival Gastronômico Feito em SP. Desculpa male-má, mas desculpa. Em tempo: não consta que no cardápio do Festival houvessem pratos à base de mortadela.

Não contente, a palavra vagabundo deu as caras de novo, agora em Brasília.

Irritado com o presidente, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse que iria implodir Jair Bolsonaro, a quem chamou, mais de uma vez, de vagabundo. “Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa porra, eu andei 246 cidades no sol, gritando o nome desse vagabundo”, disse. Teve o desabafo gravado e, daí, azedou o caldo foi no PSL, onde frutificam laranjas mais laranjas podres, em um escândalo que ameaça contaminar Bolsonaro. Com Brasília em transe e Messias chamado de vagabundo, entrou em campo a outra palavrinha: traidor, usada por gregos e troianos na batalha dos laranjais.

(Aqui cabe um parênteses: me lembrei de um samba de Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, cantado pelo grupo Fundo de Quintal. Diz a letra: "Fui a um pagode, acabou a comida, acabou a bebida, acabou a canja, sobrou pra mim o bagaço da laranja". pelo jeito, sobrou para nós esse bagaço indigesto) 

No ritmo do bate-boca, o Brasil foi às urnas em 2018 com sangue nos olhos. Bolsonaro, Doria, PSL, PSDB e companhia parecem ter gostado do “freje” e já estão em campo para 2022. Pelo andar da carruagem, o debate da próxima disputa vai ser travado no mesmo nível. Ou, pior, em nível mais baixo, aliás, um nivelzinho, pelo jeito, bem vagabundo. Culpa de quem? Ora, nossa, do eleitor. Temos eleito representantes cada vez mais despreparados para os cargos mais importantes. Ao longo do tempo temos tido um dedinho podre para escolher candidatos. Depois de Dilma Rousseff (PT) parecia ser impossível desgraça maior. Aí surgiu o Capitão e mostrou que o ruim sempre pode piorar. Doria? Depois de dar um chega-pra-lá em seu criador, Geraldo Alckmin (onde anda, onde está, ninguém viu), sofre de oportuna amnésia política e foge do “Bolso-Doria”, que o elegeu, como o diabo foge da cruz. Vale-tudo na trilha do Palácio do Planalto.

Entre vagabundos, traidores e mortadelas, a política do Brasil assusta quem pensa no futuro do país.


Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"

Comentários

  1. Há quem diga que esta pegando fogo no Cabaré. Eu diria que o atual governo se coberto será o próprio circo e se cercado será hospício. Depois das invasões barbaras se disputa o butim aos tapas. É o que acontece no planalto. Despreparado para o cargo e cercado de malucos inaptos vai levando o Pais a bancarrota. Anuncia a criação de 800 mil empregos para um deficit de 13 milhões, desesperado coma queda de popularidade faz benesses do tipo que criticava, como dar 13º ao Bolsa Família, liberar FGTS, descontingenciar verbas para a educação. Mas nada disso resolve, desindustrializado e com a construção civil falida pela Lava Jato resta ao brasileiro prover o sustento de sua família com o Uber, o Ifood, e o carrinho de bolos da maria da Paz, isso se o Felício deixar.

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