A alma paraíba

Ariano: oxente versus ok


Imagino o que diria Ariano Suassuna, paraibano da peste, nascido em João Pessoa, sobre a polêmica envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e os “paraíbas”.

Imagino só …

Nascido na Paraíba, embora radicado no Recife, mestre Ariano teceu sua obra lançado mão do sotaque, do sabor e da essência do Nordeste. Do “Auto da Compadecida” a “A Pedra do Reino”, passando por “O Santo e a Porca”, o Nordeste está impregnado em sua literatura, seu linguajar, sua prosa. Na excelência, Ariano não está sozinho. De gente ilustre, talvez desconhecida por Bolsonaro, a Paraíba está repleta. A começar por Augusto dos Anjos, sem esquecer José Lins do Rêgo, Pedro Américo, Assis Chateaubriant, Celso Furtado, Maílson da Nóbrega. Tem até presidente: Epitácio Pessoa, que governou o Brasil de 1919 a 1922. Sem falar em João Pessoa, estopim da Revolução de 30, hoje nome da capital do Estado (antes, batizada de Cidade da Parahyba)). A lista é grande. Se entrarmos no mundo dos artistas, então, imensa. Vai de Chico César a Herbert Viana, passando por Roberta Miranda, Genival Lacerda, Jackson do Pandeiro, Sivuca e Zé Ramalho –este, criado no terreiro da Usina, à sombra da Pedra de Turmalina, na pequena Brejo do Cruz, terra do meu amigo Humberto Dutra, outro paraibano da gota, doutor que sabe ler e escrever. Olha, esses são os famosos e os mais famosos. Amigo, Cidoval Moraes de Sousa está na minha lista afetiva, ao lado de Rangel Junior, reitor da Universidade Estadual de Campina Grande e presidente da Abruem (Associação Brasileira de Reitores das Universidades Estaduais e Municipais). Mas não é só. A Paraíba tem uma multidão. Marias, Pedros, Felizardos, Joanas, Cíceros, Amaros, Josefas, Franciscos  e tantos outros, nascidos em um do 223 municípios do Estado, terra de quase 4 milhões de pessoas. E, olha, estamos falando só da Paraíba. O Nordeste, onde, segundo Bolsonaro, moram e governam os “paraíbas”, têm mais oito Estados. São mais de 30 milhões de “paraíbas”, um mundaréu de gente. 

Mas, “paraíbas”, “baianos”, “cabeças chata” são, todos, brasileiros.

Brasileiros assim como você e eu, eu, descendente de mineiros que migraram para o interior de São Paulo e de fluminenses de Conservatória, no interior do Estado do Rio, tudo isso misturado com pitadas de portugueses, italianos, índios e indianos, exemplo típico de tantos outros brasileiros, com suas pitadelas de japoneses, árabes, espanhóis, alemães, franceses, chineses, suícos, africanos, argentinos, chilenos e  mais um sem-número de outras possibilidades. Somos uma nação única formada por gente bem diferente, mas uma única nação, cheia de contrastes. É para ela que, se espera, um presidente da República deva governar. Governar para todos, não para alguns. Sei que é difícil, complicado, mas essa é a natureza do cargo em um regime democrático. Olha, sinceramente, não creio, no fundo do peito que Bolsonaro quis ser mal-educado com os "paraíbas". Mais que espontâneo, como dizem seus aliados, Bolsonaro é limitado, despreparado, tosco. Desconhece (e teima em não querer conhecer) os protocolos do cargo que, pelo destino e pelo voto, veio a ocupar. Sua língua fala duas vezes antes que ele consiga pensar, é fato.

O que diria Ariano disso tudo?

Mais do imaginar, tiro da memória uma frase bem humorada do próprio Ariano, que se encaixa bem nesse contexto: eu prefiro meu "oxente" a qualquer "ok". Talkey? 

Segue o baile ...





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