O retrato da greve

O retrato da greve


Greve geral?

Estampada logo cedo em sites de notícias, essa foto é, para mim, a melhor definição da chamada “greve geral” convocada pelas centrais sindicais para esta sexta-feira: um grupo de 13 pessoas (14, se contar o fotógrafo) paralisa a operação de uma das empresas responsáveis pelo transporte coletivo em São José dos Campos e, com isso, afeta a vida de uma cidade com 700 mil habitantes.

Trata-se de uma matemática perversa: 13 contra 700 mil.

Claro, o movimento não se limitou a esse lugar, nem a essas 13 ou 14 pessoas. Mas, venhamos e convenhamos, de “greve geral” passou longe, pelo menos em São José dos Campos e nas principais cidades do Vale do Paraíba. Sindicalistas e militantes realizaram ações em pontos estratégicos (como as garagens das empresas de ônibus, por exemplo) e deixaram cidades de pernas para o ar no início da manhã. Mas o caos prometido não veio. Falava-se de comércio e bancos fechados, indústrias com a produção paralisada, milhares de adesões ao movimento, que protesta contra a Reforma da Previdência. Não foi o que vi: as lojas e shoppings estão abertos, os bancos funcionam normalmente (pelo menos a maioria) e as principais empresas de São José dos Campos, como Embraer, GM e Johnson, estão em atividade (a GM sofreu um atraso, compensável). Muita gente foi para a escola e muita gente continuou a sua rotina, apesar das ruas entupidas de carros, em razão da paralisação forçado do transporte coletivo. E as milhares de adesões ao movimento? Ora, difícil acreditar que motoristas presos no tráfego em razão de ruas e pistas bloqueadas ou que trabalhadores, estudantes e donas de casa esperando ônibus nos pontos tenham simpatia maciça pelos manifestantes. Mas, vá lá saber? 

Desculpe,  "greve geral”?

Há tempos debato isso com lideranças sindicais, desde o tempo em que mães e crianças do antigo Pinheirinho eram usadas para bloquear o tráfego da Via Dutra em protestos por vagas em creche municipais, anos e anos atrás. Qual a relação da Dutra com as creches? Nenhuma. Mas a ação gera mídia, fotos, imagens, enquanto a rodovia que transporta parte do PIB nacional fica parada por 40, 50 minutos. Adesão? Dos motoristas, zero.

Mas é triste. A sociedade não pode ser refém da vontade de alguns. Sejam os "alguns" de esquerda, de centrou ou de direita.

Existe o direito de greve e o direito de livre manifestação, garantidos pela Constituição Federal e pela Lei de Greve. Eles devem ser respeitados e não advogo contra eles. Ao contrario. Mas daí a escudar-se em direitos duramente conquistados para coagir trabalhadores e empresas a paralisar suas atividades, mudar a rotina de uma cidade de 700 mil habitantes sem prévia anuência do cidadão, a ignorar a Lei de Greve e a garantia de manutenção de 30% dos serviços essenciais, daí é um salto muito grande. O governo é ruim? Convençam a população disso. Boa parte também acha. A Reforma da Previdência é prejudicial à sociedade? De novo, convençam a sociedade disso. Mas, convençam, com argumentos e diálogo. Atear fogo em pneus não é estratégia de convencimento, mas, sim, coação. Bloquear serviços essenciais, idem.

Nesse enfrentamento, perdemos todos. Até aqueles que estão comemorando o sucesso da “greve geral” desta sexta-feira. É uma pena, não entenderam nada ...

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