Quatro visões de um domingo


Militantes do Vale antes de embarcar para ato em SP

Ainda da sempre atenta newsletter Meio, quatro visões sobre os atos pró-governo deste domingo. Com qual você concorda mais?
Vinicius Motta: "Quando surgiram as primeiras imagens de gente na rua em apoio a qualquer coisa associada ao governo, incluindo aí ataques ao Congresso e ao Supremo, Bolsonaro passou a alimentar suas redes sociais com a celebração da manifestação. Como o bom senso sugeria, houve bastante gente, mas nenhum tsunami. Tampouco houve o fracasso que a torcida à esquerda previa. O presidente ficou no meio-termo, curiosamente neste ponto muito semelhante ao apoio orgânico dado ao PT — algo como um terço do eleitorado, conforme indicam as pesquisas eleitorais neste ponto. Assim, não houve nada que assustasse o Congresso como o ato em defesa da educação da semana retrasada —cujo poderio ainda precisa ser avaliado, pois se refluir a um ambiente esquerdista, tenderá a dissolver enquanto força de pressão. O Brasil de 2019 é um país à direita." (Folha)
Josias de Souza: "Neste domingo, o pedaço da sociedade que tem simpatia por Bolsonaro foi às ruas para ronronar por ele. Imaginar que isso fortalece o governo é uma fantasia. Em seis meses, se tudo o que o governo tiver a apresentar contra o buraco fiscal, a sedação econômica e a perversão ética for um conjunto de desculpas, o mesmo asfalto que faz ronrom pode rosnar. Pragmático, o povo não costuma ser leal senão aos seus próprios interesses. Nesta segunda, ao abrir o expediente no Palácio do Planalto, Bolsonaro continuará pressionado pela mesma necessidade de entregar o que prometeu. Para isso, precisa de três quintos dos votos da Câmara e do Senado. Os dois últimos presidentes que imaginaram que seria possível emparedar o Congresso foram mandados para casa mais cedo. Mantido o ritmo, o capitão logo descobrirá que não há popularidade sem prosperidade. E os manifestantes do dia 15 de maio e deste domingo tendem a se encontrar em manifestações conjuntas. Nessa hora, o Centrão continuará representando um problema para o governo. Com uma diferença: o preço do apoio será bem mais caro. Quem tiver dúvidas, que pergunte para Michel Temer." (UOL)
Alon Feuerwerker: "Permanece uma tensão política. Não é entre governo e oposição. É disputa essencialmente dentro do bloco político-social que elegeu Jair Bolsonaro. Usando aqui livremente a linguagem das redes, é uma luta entre o bolsonarismo raiz e o nutella para decidir quem vai mandar. Domingo, o primeiro foi às ruas e mostrou disposição de combate. Esse é um problema do bloco que reúne os saudosos da hegemonia do agora Novo PSDB de João Doria, o bolsonarismo arrependido, o bolsonarismo escanteado no governo e o dito Centrão: se essa aliança informal mostra musculatura, falta-lhe povo. Não é sexy exigir que o presidente ofereça cargos em troca de apoio congressual ou defender que o Judiciário seja um freio ao poder do Bonaparte. A luta para reabilitar o presidencialismo de coalizão na preferência popular é inglória, pois rema contra uma lavagem cerebral de anos. A reabilitação não é impossível, mas depende principalmente de o governo fracassar na economia e, junto com isso, a base bolsonarista concluir que a culpa foi do próprio Bolsonaro, por não ter seguido os trâmites tradicionais da política. A turma que sonha com um bolsonarismo sem Bolsonaro não tem por enquanto garrafas suficientes para entregar."
Ascânio Seleme: "O que importa numa manifestação como a deste domingo é que um grupo grande de brasileiros, honestos e sinceros na sua maioria, foi à rua pedir soluções para tirar o Brasil do buraco. Há duas semanas outro grupo de brasileiros honestos e sinceros pedia da mesma forma saídas para a crise. A diferença entre os dois timesé marginal. Uns são mais humanistas, outros mais egoístas. Uns querem resultados já, outros poderiam ter resolvido ontem. Todos são brasileiros e querem um Brasil melhor para si, para seus filhos, para todos." (Globo)

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