A Venezuelização do Brasil



por Marcos Meirelles



Em que países do mundo você observa presidentes emparedando o Congresso e convocando sua tropa de choque para ir às ruas? Em que país do mundo um presidente eleito diz que seu país é ingovernável?

O que estamos assistindo seria um processo de "venezuelização" do Brasil?
Assim como na terra de Maduro, vamos ter horda de milicianos nas ruas, armados, para defender o governo, perseguição política aos opositores no Congresso e Judiciário acuado?

O bolivarianismo supostamente de esquerda do vizinho vai se materializando por aqui como bolsonarismo assumidamente retrógrado, focado no culto aos preconceitos, nos ataques à educação e na destruição do meio ambiente.

Como disse Carlos Andreazza, o bolsonarismo cria crises, ataca instituições e se faz de vítima. O bolsonarismo prega liberdade econômica, mas, quando convém politicamente, é tão intervencionista quanto seus antecessores petistas. O bolsonarismo defende um Estado mais enxuto, mas sabota e inviabiliza reformas ao se recusar a dialogar e ridicularizar o Congresso.  É o pior dos mundos para um país que necessita de um governo qualificado, focado na recuperação da economia e no combate ao desemprego.

No país de Maduro, toda vez que sente acuado, o presidente convoca às ruas suas hostes de militantes cooptados com ajuda federal. Será que teremos, no Brasil, milícias urbanas unidas a sindicalistas caminhoneiros, prontos a parar o país e chantagear quem for preciso para fazer valer a vontade do mito?

As manifestações de apoio ao presidente convocadas para este final de semana provocaram divergências até mesmo dentro do partido criado para elegê-lo.  Grupos historicamente alinhados às pautas do bolsonarismo criticaram a iniciativa e começaram ser chamados de “comunistas”.

Pode parecer apenas um surto temporário de loucura, é verdade. Mas há quem acredite que o caminho do hospício é mesmo a melhor alternativa para o país e, da força dessa gente, pode resultar que todos nós embarquemos, de vez, na marcha da insensatez.

Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"

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