Tudo isso é história


por Marcos Meirelles

Foram 6.500 militares perseguidos pela ditadura militar no Brasil, segundo reportagem da BBC.
Há 15 anos, escrevi uma reportagem sobre os 40 anos do golpe militar de 1964. Entrevistei políticos, militares, ativistas sindicais e religiosos que tinham vivenciado o golpe na arena pública do Vale do Paraíba.
Muita gente que hoje arrota as "fake glórias" da ditadura não tem a mínima ideia de que o regime, além de acabar com a eleição direta para presidente da República e com o pluralismo partidário, acabou também com a eleição para prefeito em São José dos Campos. Mais do que isso: o então prefeito Marcondes Pereira, eleito democraticamente, teve o mandato e os direitos políticos cassados.
História, ah quanta história a história tem para contar...
Na reportagem sobre os 40 anos do golpe, o depoimento mais emocionante foi o de Therezinha Zerbini, viúva do general Euryales de Jesus Zerbini, herói da Revolução Constitucionalista de 1932.
Euryales foi preso, expulso do Exército e teve os direitos políticos cassados simplesmente porque se recusou a aderir aos golpistas de 1964. Foi considerado morto pelo regime e terminou sua vida como gerente de uma fábrica de papel em Jacareí.
Tudo isso é história, e o resto é balela, é fakenews, é propaganda enganosa de uma gente que pretende engambelar os incautos.
Naquela época, entrevistei dois ex-vereadores de “direita” (ou seja, ligados à antiga UDN) e que haviam apoiados a deposição de João Goulart e Marcondes Pereira.
Em tom de amargura, eles confessaram, 40 anos depois, que jamais poderiam esperar que, com a edição do AI-5, teriam seus mandatos cassados e seriam expurgados da política de São José dos Campos por terem sido associados, por arapongas do regime, a práticas de corrupção.
Isto foi a ditadura e esta foi a realidade de São José dos Campos naquela época (parêntesis aqui para reverenciar Luiz Paulo Costa e Francisco Ariza, duas outras vítimas do golpe).
Por isso, fazer propaganda do golpe, no âmbito da esfera pública política, é simplesmente, e tão somente, um crime de responsabilidade.
Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição do jornal " O Vale" deste final de semana

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