Sem final feliz


por Marcos Meirelles

Depois de construir uma sólida reputação como fabricante de automóveis, a GM escapou da falência, em 2008, graças à ajuda financeira do governo norte-americano. Foi uma história intricada, que envolveu desde a incapacidade da empresa de se adequar às novas tendências de mercado até um rumoroso episódio de recall.

De lá para cá, foram dez anos de um longo processo de reestruturação, conduzido com mão de ferro pela CEO Mary Barra --a primeira mulher a assumir o comando de uma montadora global.

E o que o Brasil (e São José dos Campos) tem a ver com isso?

Na semana passada, a mesma Mary Barra ameaçou fechar fábricas e reduzir as operações da GM em lugares ou países onde a lucratividade da empresa é baixa. Não se trata de um "canhonaço" contra a América Latina, mas de uma orientação geral da empresa para maximizar seus ganhos.

Nos Estados Unidos, Trump anda às turras com a CEO da GM porque a empresa decidiu fechar uma planta em Ohio. Os democratas estão inconformados com o fechamento de outra fábrica, em Michigan. E trabalhadores do Canadá iniciaram uma greve contra a desativação de uma unidade em Oshawa.

É a lógica do capitalismo, é a regra da globalização --e não há "ilusiminion" que mude esta realidade. Se a planta de São José sobreviver à nova reestruturação da GM, os trabalhadores terão que aceitar pisos inferiores aos pagos a categorias sem especialização. Mesmo assim, soará apenas como um "sopro" de sobrevida para a mais combalida das unidades da empresa no país.

É mais um episódio que reforça a necessidade de São José repensar suas vocações econômicas. A cidade conseguiria sobreviver sem grandes indústrias e seus milhares de empregos?

Por fim, nunca é demais lembrar que o norte econômico do novo governo é o agronegócio exportador. Ou seja: oportunidades praticamente nulas para a "capital do Vale".

PS: Sigilo oficial de informações, perseguições à imprensa, escritórios do crime, milícias, laranjas, lavagem de dinheiro: o Brasil mudou ou mudaram o Brasil?

Marcos Meirelles é jornalista. Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"

Comentários

  1. A princípio o que salvou a GM da falência foram os resultados obtidos pelas suas plantas na América do Sul, principalmente as unidades brasileiras. A multinacional se beneficiou da chamada "guerra fiscal", lei que permite aos estados e municípios oferecer vantagens financeiras e fiscais para atraírem investimentos. Digo sempre que se a GM, em vez de produzir meia duzia de Blazer S10 em SJC, aplicasse no mercado imobiliário criando um grande condomínio em "suas terras" teria um ótimo retorno financeiro.

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