Sexta-feira 13, 50 anos atrás


O que esperar de uma sexta-feira 13?

Pois foi em uma sexta-feira 13 que os brasileiros tomaram conhecimento, pela TV, da decretação do AI-5, o Ato Institucional que mergulharia o país em anos sombrios, pesados, de chumbo. Lido pelo presidente de plantão, Costa e Silva, o quinto Ato Institucional da Ditadura Militar representava o fechamento do regime, com cassação de mandatos parlamentares e fechamento do Congresso, censura ferrenha, restrição à liberdade de expressão, de reunião e de pensamento, demissões sumárias, além da suspensão de direitos políticos. Foi o sinal verde para que a repressão oficial, exercida pelo Estado, se libertasse dos porões e passasse a ditar as regras. Habeas corpus? Nem pensar.
Hoje, 50 anos depois, tem gente que tem saudade. Pura bobagem. Não éramos mais felizes, nem éramos um país melhor.
Éramos um país sem liberdade ...
Lembrar os 50 anos do AI-5 tem um caráter didático. Nunca mais, repito, nunca mais o Brasil merece trilhar por aquelas searas.
Por isso, é um bom exercício ler as manchetes dos principais jornais e portais noticiosos nesta quinta-feira, 13 de dezembro. O país parece confuso, mas é mera aparência. Vivemos em um mundo em alta velocidade. Nas manchetes temos o dia-a-dia de um presidente que adora louvar Anos de Chumbo, Jair Bolsonaro (PSL), eleito pelo voto direto em eleições livres, ao lado de notícias sobre escândalos envolvendo os filhos do Capitão, fatos sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na cadeia, novidades do caso Marielle. Lemos até que um obscuro oficial da Ditadura, o coronel reformado Pedro Ivo Moézia de Lima, hoje com 80 anos,  o Doutor Ítalo Andreoli do DOI-Codi, critica a democracia, que, para ele não passa de uma grande esculhambação. Tudo isso tem um nome: liberdade de expressão. Lembrar dela, como uma conquista de democracia, nos 50 anos do AI-5,  me abre um sorriso no rosto. Toda noite, por mais sombria, longa, escura, sempre é seguida por mais um dia na vida da gente.
Acho que ensinamos mal as novas gerações sobre o que significa uma ditadura, a perda de direitos básicos, o que é uma democracia.
Uns trataram de edulcorar ações equivocadas da esquerda armada como atos de heroísmo. Pura bobagem. Outros insistiram (e ainda insistem) em enevoar o passado, transformando a Ditadura Militar em um intervalo singelo no qual os militares tutelaram a Nação para o bem do país. Nova bobagem. Não foi nada disso. Erros ocorreram de todos os lados e deveríamos ter aprendido com eles. Mas, insisto, ensinamos mal as novas gerações. Deveríamos ter ensinado a realidade, que houve, sim, uma ruptura institucional violenta, com excessos, violência e atos de covardia cometidos em nome do Estado. Que houve uma reação violenta. Que, ao contrário do que dizem na escola, a história do Brasil não se fez sem conflitos, mortes e atos de exceção. E que nada disso nos diminui como povo, como instituições e como país. Um país anda para a frente.
O AI-5 é hoje uma página no nosso passado.
Deve permanecer lá. Mas, para evitar que esse passado volte, sombrio, penoso, precisamos lembrar dele e de todos os atos, quaisquer que tenham sido eles, que nos desviaram do curso da liberdade. 

PS: para quem prefere, 13 de dezembro também é o Dia do Forró

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