Outubro Vermelho

Pela múmia de Lenin!

Essa foi de doer ...

Em pleno século 21, anos e anos após a queda do Muro de Berlim e do desmantelamento da antiga União Soviética, não imaginava que ainda ouviria alguém chamar o outro, de forma ofensiva, de “comunista”.

Pois é, sinal dos tempos ...

Mais engraçado que o “comunista”, no caso,  era eu. Tá bom, né, fazer o que? Minha súbita “conversão” ao Partido Comunista, para mim uma surpresa mais que repentina, se deveu a um educado pedido por bom-senso feito por mim em uma discussão meio atravessada sobre política nas redes sociais. Do outro lado da tela, o interlocutor disparou: “comunista”. Tudo pelo fato de eu não rezar pela cartilha dos radicais aliados a Jair Bolsonaro (PSL) e pedir bom-senso no debate travado ali entre velhos amigos. Soltei uma sonora gargalhada. Pudera: fui arrancado da minha aversão a qualquer regime radical e lançado rumo à Estação Finlândia, como um Vladimir Ilyich Ulyanov pego no contrapé por algum espertinho. Pela múmia de Lenin!

Comentei isso com outro amigo, jornalista e tão avesso a regimes totalitários quanto eu, e descobri que ele, a mais de 400 quilômetros de distância, em Vitória (ES), havia passado por coisa semelhante. Pedir bom-senso virou radicalismo. Fiquei em dúvida: em que dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio? Houaiss? Michaelis?) a expressão bom-senso foi tratada como sinônimo de comunismo?

Pobre de mim que, em plena ignorância, sempre achei que faltava um quê de bom-senso aos comunistas de verdade ...

Brincadeiras à parte, nestas eleições amalucadas, a palavra "comunista" voltou com força, disparada como ofensa, seguida, quase sempre, por algumas ofensas reais e quase sempre deploráveis. A pauta ultra-conservadora da campanha me levou a considerar, tempos atrás,  que o país estava voltando no tempo em direção de 1964. Mal sabia eu (sabe nada, inocente!) que a dobra de ideológica de tempo ia nos lançar mais longe, nos anos da Intentona Comunista de 35 ou, pior, em 37, em pleno Plano Cohen e recrudescimento do Estado Novo. Mas, como dizia Karl Marx, ele sim comunista de fato e de barba cerrada, a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como comédia. Tomara que todo esse imbróglio linguístico não passe de um engano e desembarquemos todos, sãos e salvos,  falando a mesma língua, em 2019, num país melhor, menos dividido e sempre, sempre democrático.




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