Ódio


Ódio é uma palavra poderosa. 

Para nosso azar, ela tem sido a palavra-chave da política brasileira nos últimos anos, em especial nesta campanha eleitoral. 
Pior: ela nunca vem sozinha. Ódio vem sempre acompanhado pela violência e pela intolerância, palavras e sentimentos que deixam à beira da ebulição o cenário politico. Palavras pesadas, escritas a partir do abecedário do caos.

É o ABC da crise política.

Nessa cartilha perigosa, o ponto de fervura foi atingido na última quinta-feira, no atentado contra Jair Bolsonaro, candidato a presidente da República pelo PSL, que faz uma  campanha onde o discurso do ódio é sua pedra de toque. A violência é intolerável. A violência usada para calar um adversário politico, seja ele quem for, é inaceitável. Política é a arte do confronto de ideias, do diálogo, do equilíbrio de forças ditado pela sorte nas urnas. Derrota-se um adversário politico no voto. Quando ao diálogo se impõe a estratégia das armas, algo está doente na sociedade. No Brasil, a doença que ataca a sociedade tem diagnostico claro: ódio.

Ao assumir como Norte de campanha o discurso do ódio, Bolsonaro atraiu para si o ódio dos adversários?

É claro que sim, embora isso não justifique qualquer forma de violência, muito menos o atentado sofrido por ele, o capitão, como é tratado por seus correligionários. E, nessa seara, infelizmente, o candidato do PSL, com seu discurso obtuso, não caminha sozinho. O que é o “nós contra eles” de Luiz Inácio Lula da Silva e o PT senão um discurso de ódio, de cisão entre classes, de confronto social? O discurso de ódio é fruto da construção coletiva, de uma sinuca de bico onde chegamos como sociedade, que não se enxerga mais nas estruturas políticas e institucionais que deveriam representa-la. Com seus disparates de metralhar 30 mil esquerdistas, de ensinar crianças a imitar revólver com as mãos, de renegar a história ao dizer que não houve Ditadura Militar no país, Bolsonaro é apenas reflexo do deserto de projetos políticos concretos existentes hoje para o Brasil. E, verdade seja dita, cada um de nós, em maior ou menor grau, somos um pouco responsáveis pelo curto-circuito em que o país se meteu.

O que virá agora?

O pêndulo dessa balança pode oscilar para o radicalismo ou para o diálogo, dependendo das ações imediatas dos atores que ocupam a ribalta política nacional. Que caminho vamos seguir, como Nação? Estamos escrevendo a história à quente. Bolsonaro, ainda na UTI, reedita sua pose-chavão e imita portar uma arma vestido de camisolão azul de hospital e respirador artificial no raiz. Da UTI-palanque à cela-comitê-eleitoral de Lula em Curitiba parece que, teimosos, parece que não aprendemos nada. Tão necessário ao país, o diálogo parece ter sido expulso da ordem do dia. Mas, sem ele, nem Bolsonaro, nem qualquer um outro que for eleito chegará a lugar algum. Nem eles, nem nós. 


Em uma frase recente, o papa Francisco falou que, ao invés de muros, precisamos construir pontes. Essa expressão se ajusta como uma luva ao Brasil atual.



Comentários

  1. Para reflexão: “Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor
    do nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem:
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a luz, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer nada.”

    Esse conhecido poema faz parte do longo poema “No caminho com Maiakóvski” (1968) do brasileiro Eduardo Alves da Costa.

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