A sombra e a escuridão



É uma constatação triste, mas verdadeira: nós, brasileiros, andamos para trás como país, como povo nos últimos tempos.

Os exemplos são vários.


Há alguns dias, um vídeo sobre nazismo, divulgado pela Embaixada da Alemanha em Brasília, gerou uma guerra nas redes sociais a partir de comentários que reescreviam a história, sem o menor pudor. A razão da raiva era uma só: no vídeo, publicado no Facebook, a Embaixada da Alemanha classificava o nazismo, corretamente, como uma ideologia de extrema direita. Foi o que bastou: alguns internautas negaram o Holocausto (um deles comentou, singelamente, que uma guerra sempre causa vítimas, reduzindo o extermínio sistemático de 6 milhões de judeus a um episódio sem maior expressão), outros lançaram o Partido Nacional-Socialista e Adolf Hitler na extrema esquerda --um primo-irmão, quase parente, de Josef Stalin, como se houvesse ditador do bem e ditador do mal. É o caso de dizer: sabe nada, inocente. Que aula de História esse povo perdeu? Faltou luz quando passou “A Lista de Schindler” na TV?


Reescrever a história virou esporte nacional, mais popular que futebol.


Alguns lunáticos galvanizados pelo discurso tresloucado de Jair Bolsonaro (PSL) insistem que nunca houve Ditadura Militar no Brasil. E tem gente que acredita nessa lenga-lenga. Outro bando alucinado nega o desvio caudaloso, amazônico, de dinheiro público ocorrido nos governos do PT e insiste em tratar Luiz Inácio Lula da Silva como preso político, um injustiçado capaz de levar, a partir de sua cela, na PF de Curitiba, Fernando Haddad à condição de bola da vez na briga pela Presidência da República. De quebra, surge outra figura neste Brasil de cabeça para baixo: o general Hamilton Mourão (PRTB), vice de Bolsonaro, que passa a dar aulas de Educação Moral e Cívica dia sim, outro também, ameaçando virar a mesa caso sua chapa não ganhe a eleição e dizendo que famílias pobres, só com mães e avós, são “fábricas de desajustados”, fornecedoras de mão de obra para o narcotráfico. E tem gente que concorda.


O país oscila, perigosamente, entre a sombra e a escuridão. 

Penso, em que momento perdemos as referências e viramos essa geleia geral, essa coisa sem pé nem cabeça, que reescreve a realidade pelas redes sociais? Em que momento demos um cavalo de pau na história e chegamos a essa sinuca de bico de estar a alguns dias de anistiar, pelo voto popular, a truculência da Ditadura Militar ou a corrupção generalizada do PT e aliados, que produziram escândalos como o Mensalão e o Petrolão? Em que momento o discurso do “nós contra eles” --criado por Lula, mas assumido como mantra pela direita--   transformou adversários políticos em inimigos a serem exterminados, como defende, clara e abertamente, Bolsonaro, pré e pós-facada?


Triste, mas andamos para trás. E, mais grave, tudo indica que sairemos, como povo, como nação, como economia, piores desta eleição.

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