O ódio quer nos move


por Marcos Meirelles

Vamos combinar. A maioria dos brasileiros acredita que um Brasil é um lixo. Se for da classe média, então, a posse de bola antibrasil soma mais de 80%. Goleada a la Guardiola.
O sonho de muitos é morar em Miami. Para ser um pouco mais cool, comprar um apê em Lisboa e virar cidadão europeu.
Eis o Brasil de 2018. Desesperançado.
Já estivemos em algumas encruzilhadas, em momentos supostos de decisão entre claro ou escuro, oito ou oitenta. E nos iludimos, com certeza, em relação à clarividência quase religiosa daqueles que nos prometeram o futuro.
Que tristeza! Agora não temos, nem mesmo, como mirar o futuro.
Tudo o que nos resta é escolher entre aqueles que, de alguma forma, estão presos ao passado.
Falar disso em páginas de jornal já é, de alguma forma, pregar no deserto.
Mas vamos além, e percebemos que a tecnologia da informação à nossa disposição só estimula pogroms, guetos e toda a sorte de segregação social que se possa imaginar.
O Brasil de 2018 é o Brasil que nega a ditadura militar, o assassinato dos Herzogs nos porões da ditatura, o genocídio indígena, o crime perpétuo da escravidão.
Você crê que esta é a narrativa de um candidato radical, sem ressonância na sociedade?
Olhe para os seus vereadores e para as suas Câmaras, olhe para as suas igrejas. Eles reproduzem diariamente o discurso do ódio e da discriminação, legitimados pela narrativa da defesa da família e dos supostos valores cristãos.
Eu queria que o Brasil trilhasse o caminho da tolerância. Sem negar ou reparar, no entanto, os crimes históricos que foram cometidos pela perversidade de uma sociedade escravocrata, desigual e patrimonialista.
Não obstante, nosso caminho é diverso.  Nossas famílias e nossos círculos da amigos estão conflagrados pelo veneno das redes sociais. Nosso futuro, para quem não tem dinheiro para uma temporada longa em Lisboa, parece não existir.
Para quem fica, o que resta é perseverar. Se for necessário, até torcer o nariz na hora do voto e barrar o triunfo do ódio.
Vale a pena? Quem sabe? Eu preciso pensar no futuro do meu filho e  isto certamente não passa pela negação do passado.

Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal "O Vale"

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