O DNA da Folha
Trabalhei
quase 10 anos na “Folha” e esse período foi determinante para forjar o
jornalista que eu sou hoje.
Entrei
no jornal pela “Agência Folha” na segunda metade dos anos 80 e, pela “Agência”,
participei da aventura que foi cobrir as eleições presidenciais de 89, a
primeira eleição direta após a Ditadura Militar. Depois, já pelo “Folhão”,
entrei no Projeto Regionais, que ajudou a mudar o jornalismo no interior do
Estado, criando um novo padrão de informação. Era a transformação que a “Folha”
impunha ao jornalismo brasileiro criando raízes em cinco centros regionais de
São Paulo: as regiões do Vale do Paraíba, Campinas, ABC, Ribeirão Preto e São
José do Rio Preto. Repito e não é exagero: foi uma mudança brusca do padrão de
jornalismo praticado nessas regiões, onde o direito do “outro lado” na notícia
era, muitas vezes, relegado à edição do dia seguinte. No Projeto Regionais fui
editor-assistente e editor de caderno, o “Folha Vale”, editado em São José dos
Campos. Na “Folha” ainda tive passagens pela Política e pela Economia. Deixei o
jornal em 97 para encarar um desafio pessoal: ser editor-chefe de outro jornal.
Aprendi
muito na “Folha”.
Tive
bons professores e bons colegas, Antenor Braido, Pablo Pereira, Fausto
Siqueira, Ricardo Julio, Sheila Faria, Irineu Machado, Fausto Carneiro, Isnar
Teles, Marcos Meirelles, Ana Lucia Bush, Luiz Rivoiro, Emerson Figueiredo,
Sérgio Castro, Adenir Britto, Fábio Seixas, Denise Perotti, Enio Machado,
Pasquarelli Junior, Marina Azevedo, Igor Gielow, Paulo Pupim, Marcelo Pedroso,
Estela Mari Vesaro, Raimundo Oliveira, Giseli Cabrini, Paulo Matuck, José Tadeu
Gobbi, Eduardo Weiss, Maria Regina Almeida, Cláudio Leyria, José Alfredo
Rodrigues, Rubens Linhares, Melchíades Filho, entre tantos outros, todas pessoas com quem
convivi, aprendi, ensinei, briguei no calor da Redação para, em seguida, tocar
o barco em frente porque, afinal, sempre é preciso respeitar o horário de
fechamento, faça chuva ou faça sol, encarar as madrugadas de “pescoção”. Alguns viraram amigos para a vida toda. Irmãos.
No jornal, era
o período de consolidação do projeto “Folha”.
Na
“Folha” eu aprendi a gostar da informação exata (detesto ler texto mal-apurado), a nunca ficar satisfeito com o
trabalho de apuração e investigação, a buscar, sempre, melhorar a cada dia, a
querer, sempre, fazer amanhã uma edição melhor que a de hoje. Aprendia a
lapidar meu domínio da Língua Portuguesa, a buscar sempre novos enfoques, a não
ter medo das críticas, a admitir erros quando falhamos, Aprendi a trabalhar sob
pressão, a ser chefe de equipe, a planejar meu trabalho e o trabalho das
pessoas que estavam ao meu lado (planejamento é essencial no jornalismo), a defender
meu ponto de vista além do limite do bom-senso quando sei que estou com a
razão. Sobrevivi, com méritos, à pressão que é trabalhar na “Folha”, como bem
sabem todos àqueles que trabalharam ou trabalham nesse jornal. Nele, tive o DNA do jornalismo da "Folha" --crítico, independente, apartidário, plural-- impregnado em mim, como uma marca indelével. Ele foi importante para moldar o projeto de dois jornais dos quais fui editor-chefe, o "ValeParaibano" e "O Vale".
Enfim,
participei de uma aventura que, sabíamos, estava mudando o jeito de fazer jornalismo no Brasil.
Por
tudo isso é impossível ficar alheio à morte de Octávio Frias Filho, com quem
tive pouco contato (um deles, engraçado, guardo para outra hora), mas que foi o
responsável pelo projeto que foi importante para minha formação como
jornalista. Otavinho era um símbolo para a “Folha”, com sua força de trabalho,
sua visão editorial e sua capacidade de traduzir de forma simples as questões
mais complexas. Era um homem lúcido, uma referência no jornalismo. Ouvi diversas palestras dele, participei
de diversas reuniões com ele e, de todas, sai com alguma lição aprendida. Trabalhei quase 10 anos na “Folha” e esse
período foi determinante para forjar o jornalista que eu sou hoje.
Mas, como aprendi na própria "Folha", segue o baile. A edição mais importante sempre é a do dia seguinte ...
Obrigado pelo texto, meu amigo. Traduziu um pouquinho do que cada um de nós, citados no texto, viveu naquele período do Projeto das Regionais da Folha. Nós sabíamos estar fazendo parte de algo especial. E falo sem demagogias: se a Folha foi minha escola, o autor desse blog foi meu mestre!!!
ResponderExcluirBela homenagem Hélcio. O Projeto Folha forjou grandes profissionais em todas as áreas e o desafio era ter um jornal com cobertura e distribuição nacional num país continental e profundamente desigual.
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