Outros 300 picaretas ...

Luiz Inácio

Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou: são 300 picaretas com anel de doutor ...

É, doutor, a letra de “Luiz Inácio (300 Picaretas)”, sucesso do Paralamas em um longínquo 1995, causou furor à época. Tanto que a música chegou a ser proibida nas rádios, por ação direta do Congresso Nacional (onde estariam os 300 picaretas). Hoje, depois do Mensalão, da Lava-Jato e do Petrolão, nem faz mais parte do repertório do Paralamas. Não dá, né? Luiz Inácio não falou, muito menos avisou, mas, na surdina, já havia se bandeado há tempos para o lado dos picaretas, mesmo sem ostentar anel de doutor. Jogou sua biografia na lata do lixo, junto com a esperança, a ingenuidade de uma geração e as bandeiras da esquerda brasileira. Uma pena ...

Isso me veio à mente nos bastidores da gravação do “Band Entrevista” em que eu e o jornalista Cláudio Nicolini entrevistamos o economista Paulo de tarso Venceslau, um dos fundadores do PT, expulso no partido após críticas a Lula.

Eu cobri como repórter da “Folha de S. Paulo” todo esse processo, que culminou no expurgo de Paulo de Tarso do PT. Em entrevista ao “Correio Popular”, de Campinas, em 1997, Pauto havia repetido uma história que contava há tempos: empresários ligados a Roberto Teixeira, compadre de Lula, procuravam prefeituras governadas pelo PT buscando contratos e facilidades. Era o chamado Caso CPEM, em referência à sigla da empresa que prometia aumentar a arrecadação municipal mediante pagamento de honorários. Havia suspeita de fraude e sobrepreço, mas isso é outra história. Entre os emissários estava o irmão de Teixeira, advogado da CPEM. Bem, o “Jornal da Tarde” republicou a entrevista e causou um tsunami. Todo mundo foi atrás. Afinal, o caso ligava Lula, por intermédio de seu compadre, a um esquema de favores usando dinheiro público.

Preocupado com a repercussão do caso em ano-chave (véspera da eleição de 98, quando Lula tentaria, novamente a Presidência da República contra Fernando Henrique Cardoso), o PT criou uma comissão de notáveis para investigar a história. Cobri pela "Folha" a divulgação do relatório dessa comissão.

No documento de páginas e páginas, a comissão formada por Hélio Bicudo, Paul Singer (morto recentemente) e José Eduardo Cardozo (que viria a ser ministro da Justiça de Dilma Rouessef) foi taxativa: existia, sim, uma relação estranha entre Lula, Teixeira, CPEM e prefeituras do PT, contrária à transparência e ao zelo com o dinheiro público defendidos pelo partido. Era nitroglicerina pura. A comissão punha Lula em xeque. A entrevista coletiva no diretório do PT, no centro de São Paulo, a poucos quarteirões da "Folha", ferveu igual a alka-seltzer. Lula culpado? Simples assim? Longe disso. Um documento extra, produzido por um pau-mandado da direção do PT, sob álibi de servir de resumo do texto original, tomava como base o relatório dos notáveis, mas saia com uma conclusão contrária: primeiro, para não deixar Lula vulnerável à ação de empresários, o PT criava um salário para o seu líder; segundo, por ter levado um assunto interno do partido a exposição pública, Paulo de Tarso deveria ser expulso do PT. E assim foi feito.

Era a concretização de um impasse criado por Lula nos bastidores.
“Ou ele ou eu”, disse Lula, sobre Paulo de Tarso. O partido optou por Lula. Entrevistei à época diversas lideranças do PT. Boa parte expôs o dilema interno: o que mais o PT poderia fazer? Traduzindo: sem Lula, o que seria do PT?

Bem, Paulo de Tarso foi expulso do PT e o resto é história.
Lula foi eleito e reeleito presidente da República, fez sua sucessora e assim por diante. Seu governo teve conquistas para o país, mas, no subterrâneo, mesclou, como nunca antes na história desse país, política, poder e corrupção.

Hoje, Paulo vive em Taubaté, cidade onde que descobriu a política estudantil nos anos 60, no bom e velho “Estadão”, o ginásio Monteiro Lobato. Tenta manter, na web, seu jornal, "Contato", que já não circula em papel. Lula está preso em Curitiba, condenado a mais de 12 anos de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Responde a mais sete processos na Justiça. Teixeira tem escritório de advocacia em São Paulo, tendo como sócio Christiano Zanin Martins, advogado de defesa de Lula. Zanin é genro de Teixeira.  Na época da denúncia de Paulo de Tarso, a CPEM tinha como um de seus advogados Dirceu Teixeira, irmão de Riberto. Padrinho de Luís Cláudio, filho mais novo de Lula e Marisa Letícia, Roberto nunca escondeu sua ligação com o ex-metalúrgico. O advogado foi investigado pela Lava-Jato por lavagem de dinheiro na compra e reforma do sítio de Atibaia.

E segue o baile, agora ao som do Paralamas. Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou ...

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