A vida é uma encruzilhada


por Guilhermo Codazzi da Costa

A vida é uma grande encruzilhada. Um lugar onde cruzam-se infinitos  caminhos, neste emaranhado sem fim de encontros e desencontros. Chegadas e partidas. De tantas partidas vencidas e perdidas. De estradas que nos levam para onde nos perdemos. E também, por vezes, nos encontramos também. Pablo Neruda, poeta maior, cravou em seu Livro das Perguntas: 'Pois não foi onde me perderam que eu me dei, enfim, por achado?'. Pelas ruas, perguntas e respostas andam de mãos dados.

E o que fazer quando estamos em meio à encruzilhada?

Quando se está em apuros, em um dilema. Afinal, essa encruzilhada da vida está repleta deles. Vira e mexe, estou nessa situação, vejo os meus pés percorrem sem rumo certo as ruas da cidade que já foi minha e que hoje, de concreto, já não é mais.

E, sem GPS, mapa ou bússola, encontro nelas o entroncamento do passado, o presente e o futuro. "E onde terminará o arco-íris: dentro da alma ou no horizonte?".

No mesmo passo, naquela mesma esquina, cruzam-se o menino que eu fui, o homem que eu sou e o senhor que talvez em torne. Por vezes, um se reconhece nos outros. Já em outros momentos nem sequer se olham, deixando outra pergunta extraída da obra do genial escritor chileno: "Onde estará o menino que fui? Anda comigo ou evaporou-se? Sabe que nunca fui com ele, nem ele comigo tampouco? Por que estivemos tanto tempo crescendo para essa ruptura? Quando minha infância se foi, por que nós dois não fomos juntos?".

Por quê? Será que alguém tem a resposta? 'Em que janela me quedei contemplando o tempo já sepultado? Ou o que observo, lá de longe, é o tempo que ainda não vivi?'. Nesta encruzilhada, a cada passo, deixamos uma parte de nós para trás, abrindo espaço para o novo. Mesmo que o novo seja o velho livro com capa nova, uma nova versão de nós.

A cada passo, decidimos, mesmo que de forma inconsciente, se viveremos um dia a menos ou um dia a mais. E, como questionava Neruda, o que dirão aqueles que nos deram como morto? 'E que bandeira tremulou no espaço em que não me esqueceram?'

E aqueles que me julgaram?
"Que dirão da minha poesia os que não tocaram meu sangue?.Minha roupa desbotada se agita como uma bandeira. E que bandeira tremulou no espaço em que não me esqueceram?"

E, mesmo nessa encruzilhada, ainda ontem sai feito carta perdida a conjugar indagações no peito. E entre tantas e tantas ruas, encontrei em uma delas a minha prima Malu, na esquina de quem fomos e somos, perto de onde nossos avós moraram por tantos e tantos anos. Que saudade. Conversamos, rimos e choramos. O homem que sou reencontrou, nos olhos dela e naquela esquina, aquele menino que eu fui.

Um menino que eu levo comigo no olhar, sempre, nessa encruzilhada que se revela a cada passo como um livro com muitas perguntas e raras respostas. Ainda ontem aquele menino de cabelos revoltos disse aos meus olhos: quando nos veremos de novo?

Guilhermo Codazzi da Costa é editor-chefe do jornal "O Vale", onde este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana

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