Obrigado, Marielle
Marielle
Franco não pode ter morrido em vão. Sua luta, que é a luta da imensa maioria
dos brasileiros, precisa persistir através de outras vozes, ganhar força e
ecoar por todo o país.
E quais eram
as bandeiras de Marielle?
Mestre em administração pública, a vereadora negra,
moradora da favela da Maré, era, sim, uma grande defensora dos direitos
humanos.
Mas, caro
leitor, que país esse onde defender humanos tornou-se atividade de risco e alvo
de ataques abomináveis nas redes sociais? Chegamos a tal ponto que um jornal
carioca teve que explicar aos seus leitores, tintim por tintim, o que são
direitos humanos e reproduzir alguns dos artigos da declaração universal da ONU
em 1948. Reafirmar por exemplo,
como reza o artigo 7 da declaração, que “todos são iguais perante a lei e têm
direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei”.
Na inocência
dos que têm mais de 80 anos, minha mãe recebeu a notícia da morte de Marielle
com perplexidade. Não conseguiu compreender por que mataram uma mulher que
nunca fez mal a qualquer pessoa e que dedicou sua vida a batalhar pela vida dos
mais desassistidos.
Então eu
respondi: mãe, Marielle morreu justamente por isso. Porque a violência acentuada
pela omissão do Estado perpetua o domínio e a exclusão dos favelados, dos
negros, da gigantesca periferia abandonada pela Casa Grande.
É
impensável, para os supremacistas brancos, imaginar e admitir uma líder
política jovem, negra, favelada e que, com seus esforços, conseguiu cursar uma
universidade e tornar-se mestre.
O
assassinato de Marielle nos sentencia como projeto de nação. Estamos
irremediavelmente condenados à violência, à desigualdade, ao
subdesenvolvimento?
Eu não vou
desistir do Brasil. Mesmo com todas as perdas humanas e todos os retrocessos
provocados pelo processo histórico de apropriação privada do Estado brasileiro,
acredito que ainda temos a possibilidade de construir um país mais justo e
igualitário.
Mas devo
confessar que senti asco e repulsa ao observar postagens de alguns “amigos de
Facebook” relativizando a dor e a dramaticidade da morte de Marielle. Esta
gente desaprendeu a ser gente.
Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição do jornal "O Vale" deste final de semana
O Brasil e o mundo ficaram consternados com o brutal assassinato da vereadora Marielle, do Rio de Janeiro. Junto com ela, o desconhecido motorista Anderson Gomes, mas também vítima. Talvez tenha sido morto para uma tentativa de desqualificar o crime.
ResponderExcluirA política representava a mulher, a negra, enfim, uma pessoa que se dedicou a defender os menos favorecidos, defendeu os direitos humanos, e pagou com a vida.
Ela não morreu por ser negra, provavelmente por defender a morte de jovens pobres e negros das favelas do Rio. Ela mesma da favela do Maré.
Quem a executou certamente objetivava calar a voz de uma pessoa, mas a ação terá efeito contrário. O Brasil e o mundo se comoveram e o caso não ficará esquecido. Suas palavras corajosas lhe tiraram a vida, mas não tirou sua luta de denunciar a violência. Um dia antes de morrer, Marielle questionava: “Quantos ainda vão ter que morrer?”
Uma rápida pesquisa mostra que, de janeiro de 2016 e março de 2017, foram mortas pela Polícia do Estado do Rio 1.227 pessoas. E de cada dez, nove eram negras ou pardas.
Marielle não é diferente de ninguém, e vai aumentar os índices de tanta violência que está acontecendo no Estado, no Brasil. Mesmo sendo vítima de um crime bárbaro, é triste ver tantos comentários de ódio, de um fanatismo sem tamanho. Isso só revela, mais uma vez, o quanto existe no país gestos racistas.
Com a morte da vereadora, foram sepultados 46 mil votos que ela teve na eleição. Mas, esse número tornou-se pequeno diante de milhares de brasileiros que foram às ruas manifestar repúdio ao ato covarde.
Que as palavras do ministro da Segurança Pública venham a ser concretizar: os assassinos serão encontrados e punidos. É o mínimo que a sociedade exige!
Excluirverdade, Luiz, a punição dos criminosos é o que a sociedade exige.