De boas intenções ...



Falando francamente, a Prefeitura de São José dos Campos fez cortesia com o chapéu dos outros nesse caso de tarifa dupla para os ônibus urbanos ...

Exagero? Longe disso ...

Ao transferir para as empresas privadas a responsabilidade de pagar o aumento da tarifa, o governo Felício Ramuth (PSDB) jogou para a platéia e criou uma espécie de sobretaxa a ser bancada por quem fornece vale-transporte a seus funcionários. É fácil entender. Segundo o secretário de Mobilidade Urbana, Paulo Guimarães, a tarifa real deveria ir de R$ 4,10 para R$ 4,39, ou R$ 4,40, para facilitar o troco. Com a chamada "tarifa social", o passageiro comum fica com R$ 4,10 e os 30 centavos restantes serão repassados, a partir de 5 de março, para as empresas privadas, que já pagariam R$ 4,30 --a tarifa considerada real, não é bom esquecer. Bem, com isso, as empresas privadas passarão a pagar R$ 4,70 pelo vale-transporte --R$ 4,30 reais e uma sobretaxa social de R$ 0,30. Duas tarifas, uma para CPF, outra para CNPJ. Com uma desculpa única, a crise, usada sem muito critério: a mesma crise que, segundo a prefeitura, é muito pesada para o cidadão arcar com os R$ 0,30 de reajuste vira leve, num passe de mágica e de retórica, para que as empresas assumam a sobretaxa social. Malabarismo 10, lógica zero.

O governo conta com dois fatos a seu favor: um, pouca gente ousa criticar a "tarifa social" para não ser acusada de defender as empresas, odiar os pobres etc e tal, esses argumentos rasos em objetividade e prenhos de demagogia (eu, por exemplo, vou levar um cacete nas redes por esse artigo, sem dúvida); dois, ninguém gosta de pagar mais por um serviço, por isso a expressão "tarifa congelada" soa tão bem aos ouvidos das pessoas ...

Mas, como qualquer zé-mané sabe, não existe almoço grátis. O extra lançado no colo das empresas privadas vai ser, em algum momento, repassado para o consumidor final de produtos e serviços. Não tem outro jeito. Vai subir o cafezinho, o pão, o convênio médico, o preço do sapato, sei lá mais quantos produtos e serviços. É triste, mais é verdade: a sobretaxa social vai ser paga por todo mundo, até por quem não anda de ônibus. Isso joga por terra um princípio que sempre foi defendido, até com orgulho, pelos governos do PSDB em relação ao modelo do sistema de transporte urbano em São José dos Campos: quem usa, paga, simples assim. A partir de agora, todos pagam, direta ou indiretamente, andando de ônibus, carro, a pé, de moto ou bicicleta. 

(A mesma lógica vale para colocar por terra o argumento de quem a Urbam e a Fundhas são as maiores compradoras de vale-transporte no município. Ora, se são, organismos públicos --e não quem anda de ônibus--vão absorver a sobretaxa de R$ 0,30. Como a prefeitura não imprime dinheiro, assim como nenhum governo, não precisa ser muito inteligente para descobrir quem, afinal, paga essa conta ...)

As entidades classistas botaram a boca no trombone, com razão, tem gente querendo levar o caso à Justiça, noves fora, e muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte. O reajuste é necessário para manter o equilíbrio financeiro do sistema. Mas, uma coisa é certa: a prefeitura fez cortesia com o chapéu dos outros no caso da tarifa dupla, lançada no colo das empresas privadas, sem qualquer constrangimento. Se fosse no governo Carlinhos Almeida (PT), sai de baixo, a medida já estaria debaixo de uma saraivada de críticas. Essa é a nossa política. É triste, mas é verdadeiro: de boas intenções, o inferno está cheio. 

E segue o baile ...

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