Pra que tu me seduz?
Tiririca entre seus pares |
Hoje
tem marmelada? Tem, sim senhor. Hoje tem goiabada? Tem sim, senhor. E o
palhaço, o que é? É ladrão de mulher.
Pois
é ...
Esse
velho bordão do circo, cantado por Carlos Galhardo, agitou a imaginação de
gerações e gerações, virando nome de peça de teatro, encabeçando artigos em
jornais, vencendo o tempo e chegando a esse novo tempo em que a imagem do circo
e a imagem do palhaço estão anos-luz de distância daquilo que eram circo e
palhaço décadas atrás. Esse
lero-lero ganha sentido quando o foco da semana recai sobre Francisco Everardo
Oliveira Silva, eleito e reeleito deputado pelo PR de São Paulo fantasiado de
seu personagem, o palhaço Tiririca. Teve votação estratosférica: 1,3 milhão de
votos, a terceira maior da história. Sua campanha foi feito com bordões
engraçados. “O que é que faz um deputado federal? Não sei, mas vote em mim que
eu te conto”, dizia, para emendar: “pior do que tá não fica.”
Ele estava errado. Fica sim ...
Tiririca
subiu à Tribuna da Câmara dos Deputados esta semana para dizer que não vai
disputar as eleições de 2018 por estar, segundo ele, envergonhado com o que viu
nos últimos sete anos em Brasília. O que viu, afinal? Não contou muito. Disse
que deputado ganha bem, R$ 23 mil livres por mês, mais mordomias, mas que
muitos deles fazem coisas erradas a ponto de terem de viver se escondendo pelos
cantos. Detalhes? Nenhum. Pode mudar de ideia? Quem sabe, já fez isso em 2013,
desistindo de desistir de disputar uma nova eleição. Alguns, mais sérios,
levantaram a questão: qual o legado de Tiririca? Ora bolas, lançado deputado
pela artimanha de Valdemar Costa Neto, o chefão nacional do PR, envolvido até a
raiz do cabelo em sucessivos escândalos de corrupção, Tiririca e sua votação
gigantesca serviram para reforçar a bancada do partido na Câmara.
“Hoje vota-se
em Tiririca e se elege Valdemar da Costa Neto”, disse, anos atrás, Gilmar
Mendes, à época presidente do TSE. Essa é a piada sem graça do palhaço nascido
em Itapipoca, no Ceará, nos anos 60, que assustou até o abestado do Gilmar Mendes: Tiririca,
embalado por “Florentina”, serviu de cavalo de Tróia para que os velhos
coronéis da política aplicassem um passa-moleque no eleitor.
O
palhaço, o que é?
Pois é, bobo é que não é. Bobo somos nós ...
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final-de-semana do jornal "O Vale"
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final-de-semana do jornal "O Vale"
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