Tá feliz, Pensador?
Bola dentro ...
O jornalista Caio Marinho, que divide o comando do Bom Dia São José com Dirceu Plenamente, pela rádio Cultural FM, conseguiu esta semana uma entrevista com Gabriel O Pensador, que lançou recentemente um rapp polêmico, "Tô Feliz (Matei o Presidente) 2". O Pensador tem falado pouco sobre a música, mas abriu o jogo com Caio Marinho. Vale a pena ouvir a entrevista. O blog dois:pontos pediu que o jornalista narrasse os bastidores da entrevista. É isso que você vai ler a seguir:
O Pensador que matou o Presidente
por Caio Marinho
Há algumas semanas o cantor
Gabriel O Pensador lançou um novo clipe, com o tema da música “Tô Feliz (Matei o
Presidente) 2”. Após a divulgação do novo trabalho, o vídeo começou a ser
compartilhado pelas redes sociais e viralizou em muito pouco tempo.
Em vários trechos ele cita “Matei
o Presidente”, fazendo uma analogia com o que vem acontecendo atualmente no
cenário político do Brasil. Houve informações que o governo tentou retirar o
clipe da internet, mas realmente isso aconteceu?
Como todo jornalista é curioso, e
querendo saber se a informação realmente procedeu ou não, em uma rápida busca
na internet, havia poucas entrevistas com ele após a divulgação do novo
trabalho. Aí a dúvida aumentou mais ainda, será que realmente tentaram censurar
a música?
Aí a caça ao Gabriel começou e
como conseguir falar com ele para pedir uma entrevista? Será que concederia? E
a busca ao Pensador continuava durante todo o sábado, dia 28, em uma ligação
aqui e outra ali e em uma delas quem atende? Era ele mesmo, estava no Maracanã
e em rápida conversa pediu para que retornasse uma hora depois.
Pontualmente às 21h30, a
entrevista começou e em um bate papo de cerca de 20 minutos, ele falou da
música e sobre o cenário político atual. Confira abaixo alguns trechos da
entrevista.
Caio Marinho: Você lançou
recentemente a música “Tô Feliz (Matei o presidente)”, que já passa de 4
milhões de visualizações. Como surgiu a ideia de fazer e compor essa música?
Pensador: Na verdade a gente está
com “Tô Feliz (Matei o Presidente) 2”, a minha primeira música, antes de eu ter
gravadora se chamava “Tô Feliz (Matei o Presidente)”, na época do governo Collor,
foi muito inovadora e o governo acabou censurando. Foi a mais pedida em uma
rádio aqui do rio, começou a fazer barulho e de lá pra cá comecei a fazer
outras músicas de protesto. Nunca tinha feito uma segunda versão do “Matei o Presidente”,
e a ideia começou depois que o governo atual iria liberar uma reserva da Amazônia
para exploração, pra mim aquilo era o símbolo que eles fazem o que querem, sem
saber da nossa opinião e aproveitando também pra falar sobre a impunidade.
Caio Marinho: A gente assiste ao
clipe uma vez e queremos ver mais vezes, porque é bem dinâmico, começa na Amazônia,
passa alguns trechos em Brasília. Como ele foi feito e quanto tempo durou a
produção do início ao término?
Pensador: A gente nem parou para
calcular, não tinha um prazo definido, porque queríamos caprichar nele, a ideia
era passar a mensagem da música com emoção. Começamos a gravar na Amazônia, com
a participação de alguns índios de várias tribos que já trouxeram para o clipe
um sentimento. Depois fomos para Brasília, alguns trechos foram gravados em
frente à Câmara dos Deputados e na UNB (Universidade de Brasilia), e os
estudantes entraram de cabeça no projeto. Tiveram partes que foram gravadas em
outros estados também.
Caio Marinho: Houve a informação
que o governo tentou retirar a música depois que foi lançada. Isso realmente
aconteceu?
Pensador: Não, isso foi uma coisa que chegou para mim
como chegou para outras pessoas, como boato e uma possibilidade, já passei por
isso quando a primeira versão foi censurada, mas desta vez ficou somente essa
informação vaga, no whatsapp onde as pessoas estão compartilhando a música,
alguém incrementou a informação que eu teria recebido uma notificação, mas isso
não procedeu.
Caio Marinho: A gente vive em um
momento muito conturbado politicamente no brasil, em épocas de delações
premiadas, escândalos. Como você vê o cenário político atual e que mensagem
pode deixar para as pessoas?
Pensador: A gente acima de tudo é
brasileiro, ama esse país, eu que estou fazendo música há um tempão, trabalho
com isso acreditando e mantendo a chama da esperança acesa. Temos que continuar
acreditando e quem está lá fazendo tudo isso acontecer são nossos funcionários
e tem que trabalhar pra gente, porque recebem pra isso. Temos que ser mais
exigente com os políticos em geral, e enxergar o próximo como irmão e queremos
uma vida melhor, com mais direitos e respeito. A nossa causa é o Brasil.
Caio Marinho: Tem várias maneiras
de se manifestar, como por exemplo, você através da música. As pessoas se manifestaram em 2013 e hoje em
dia com todos esses escândalos vemos uma população enfraquecida, não acha que
era o momento da população voltar para as ruas e se manifestar de forma
pacífica mostrando a indignação do que está acontecendo no país?
Pensador: Acho que sempre foi o
momento de estarmos nas ruas, nas rádios, universidades, onde for possível
levantar uma voz contra tanto absurdo. Nessa música, eu falo, ‘que não matei e
nem vou matar literalmente o presidente, mas se todos os corruptos morressem de
repente, ia ser tudo diferente, ia sobrar tanto dinheiro, que andaríamos nas
ruas sem temer o tempo inteiro, seu pai não ia ser assaltado, seu filho não ia
virar ladrão, sua mãe não iria morrer na porta do hospital, seu primo não ia se
matar no natal, seu professor não ia lecionar sem esperança, você não ia querer
fazer uma mudança de país, sua filha iria poder brincar com outras crianças e
ninguém precisaria matar ninguém pra ser feliz’. É o que a gente começa
imaginar como tudo poderia ser bom com os recursos que a gente tem, se não
houvesse corrupção e a mãe dela é a impunidade.
O governo compra os votos dos deputados e ultimamente tem sido mais
escandaloso isso, porque compraram pro Temer não ser julgado e condenado.
Caio Marinho: Em 1992, você fez a
música parte 1 que falava do governo Collor e agora, na parte 2, onde hoje em
dia temos acesso as informações dos casos que vem acontecendo, como você vê a evolução da sociedade
politicamente falando? A população está mais madura para enfrentar as urnas no
ano que vem?
Pensador: Infelizmente acho que
não, não amadurecemos muito, nem o povo e nem os políticos, eles estão viciados
no jeito de fazer política. Isso reflete na cabeça do eleitor, porque ele não
ve aquela coisa com a seriedade que poderia, não tenta entender qual a função
de cada cargo político. O eleitor não entende muito bem o sistema político, e
acreditam em conversas que não tem fundamento nenhum e falta amadurecer muito
ainda.
Caio Marinho: Qual é o recado que
você pode deixar para as futuras gerações?
Pensador: Temos que não só
reclamar dos políticos e fazer a nossa parte, sendo correto e fazendo o bem,
não só para nós mesmos, mas para o próximo também. Nossas atitudes podem ser
exemplo para outras pessoas.
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