Políticos & parceiros ...
Na multiplicação dos esquemas de corrupção que se espalham pelo Brasil, uma palavra legitima a atuação de corruptores e corruptos: “parceria”.
Essa regra impera em todas as esferas da administração pública do país.
Essa regra impera em todas as esferas da administração pública do país.
Outro dia, conversando com um jovem prefeito do interior da Paraíba, certifiquei-me, mais uma vez, que há margem escassa para boas práticas de gestão pública.
O prefeito assumiu com o firme propósito de reduzir custos com obras e serviços. Mirou, entre outras coisas, o contrato de coleta de lixo e descobriu que o preço da tonelada estava 40% acima do praticado por cidades vizinhas.
Na tentativa de renegociar o contrato, foi surpreendido por uma romaria de vereadores –8 dos 15 parlamentares tinham parentes empregados na empresa “parceira” e também contratos indiretos de prestação de serviços.
O prefeito descobriu ainda que o “parceiro do lixo” fornecia informalmente próteses para a área de assistência social e veículos para o transporte de pacientes. Ah, claro, havia também ajuda para festas nos bairros.
O prefeito chamou então seu secretário de Administração, oriundo do governo anterior, e questionou até onde se estendiam as “parcerias”. Múltiplas, informou ele. As parcerias estavam na merenda escolar, nas empresas de ônibus, nos medicamentos, nos serviços de limpeza e capina e até na fornecedora de água potável na zona rural.
Sob o guarda-chuva de cada um desses contratos, havia parentes de vereadores, ex-vereadores e lideranças comunitárias. E havia o “jeitinho” para ajudar a prefeitura nas despesas extraordinárias.
Todos esses contratos, obviamente, tinham gordurinhas facilitadas pela Lei de Licitações.
O que fazer? O prefeito insistiu na redução dos valores do contrato de lixo e viu a coleta entrar em colapso em menos de dois meses. Tentou licitar uma nova empresa de ônibus e virou alvo de uma comissão processante na Câmara.
Aconselhado por amigos mais experientes, desistiu de confrontar os “parceiros” de longa data da administração municipal. Diz hoje ter a consciência tranquila porque não se beneficiou pessoalmente de nenhum desses contratos. Sua cidade, no entanto, está condenada a pagar por serviços caros e, invariavelmente, de má qualidade.
E você, caro leitor, acredita que isso só acontece na Paraíba?
Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"
Comentários
Postar um comentário