Políticos & parceiros ...

De olho nos esquemas ...

por Marcos Meirelles

Na multiplicação dos esquemas de corrupção que se espalham pelo Brasil, uma palavra legitima a atuação de corruptores e corruptos: “parceria”.
Essa regra impera em todas as esferas da administração pública do país.

Outro dia, conversando com um jovem prefeito do interior da Paraíba, certifiquei-me, mais uma vez, que há margem escassa para boas práticas de gestão pública.

O prefeito assumiu com o firme propósito de reduzir custos com obras e serviços. Mirou, entre outras coisas, o contrato de coleta de lixo e descobriu que o preço da tonelada estava 40% acima do praticado por cidades vizinhas.

Na tentativa de renegociar o contrato, foi surpreendido por uma romaria de vereadores –8 dos 15 parlamentares tinham parentes empregados na empresa “parceira” e também contratos indiretos de prestação de serviços.

O prefeito descobriu ainda que o “parceiro do lixo” fornecia informalmente próteses para a área de assistência social e veículos para o transporte de pacientes. Ah, claro, havia também ajuda para festas nos bairros.

O prefeito chamou então seu secretário de Administração, oriundo do governo anterior, e questionou até onde se estendiam as “parcerias”.  Múltiplas, informou ele. As parcerias estavam na merenda escolar, nas empresas de ônibus, nos medicamentos, nos serviços de limpeza e capina e até na fornecedora de água potável na zona rural.

Sob o guarda-chuva de cada um desses contratos, havia parentes de vereadores, ex-vereadores e lideranças comunitárias. E havia o “jeitinho” para ajudar a prefeitura nas despesas extraordinárias.

Todos esses contratos, obviamente, tinham gordurinhas facilitadas pela Lei de Licitações.

O que fazer? O prefeito insistiu na redução dos valores do contrato de lixo e viu a coleta entrar em colapso em menos de dois meses. Tentou licitar uma nova empresa de ônibus e virou alvo de uma comissão processante na Câmara.

Aconselhado por amigos mais experientes, desistiu de confrontar os “parceiros” de longa data da administração municipal. Diz hoje ter a consciência tranquila porque não se beneficiou pessoalmente de nenhum desses contratos. Sua cidade, no entanto, está condenada a pagar por serviços caros e, invariavelmente, de má qualidade.

E você, caro leitor, acredita que isso só acontece na Paraíba?

Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição deste final de semana do jornal "O Vale"

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