Inimigos íntimos
Alvarenga e Ranchinho |
Eu fui criado em Cruzeiro, cidade que tem um folclore político riquíssimo.
E política sempre foi um dos temas freqüentes em casa. Escuto causos e histórias sobre política desde o berço ...
Isso não faz de mim um expert, mas me mantém sempre curioso.
Essa polarização PSDB-PT em São José dos Campos me trouxe à
mente uma história contada por meu pai, Hélcio, que sempre gostou de política
apesar de nunca ter se aventurado por essa seara (fiel a uma promessa feita à
minha mãe, mas isso é uma outra história). A história é a seguinte:
Em Cruzeiro nos anos 50, 60 havia dois lideres políticos,
Avelino Junior e Nesralla Rubez. Eram adversários. Se um estava na UDN, por exemplo, o outro
estava no PSD. Se um era do MDB, o outro estava na Arena. Se um estava na Arena
1, o outro era Arena 2 (acredite, no mundo do bipartidarismo da Ditadura
Militar havia grupos diferentes disputando a eleição pelo mesmo partido, no
caso, o partido do governo, em um sistema de legenda e sublegenda). Colecionavam vitórias e derrotadas um sobre o
outro. Era uma briga de foice no escuro. Mas nunca, nunca, nunca, o vencedor de
ocasião aproveitava o vento das urnas e da sorte para varrer o outro do mapa.
Bondade? Perdão? Longe disso: sobrevivência. Liquidar de vez o adversário já conhecido poderia abrir
espaço para o surgimento de uma nova liderança, cujas armas e artimanhas,
desconhecidas, poderiam causar um estrago muito, muito maior. Eram, assim, inimigos unidos, como uma boa dupla --quase Alvarenga e Ranchinho-- que enfrentava sempre em lados dissonantes os altos e baixos no humor do eleitorado.
Exagero? Digo que foi assim por anos e anos ...
Mas isso é passado. Avelino e Nesralla são lembrados hoje mais como nomes de avenida na cidade do que como líderes políticos. Prova que o tempo reduz tudo a quase nada. Fica o causo ...
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