Monstro de duas cabeças

Tem hora que o governo Felício Ramuth (PSDB) me faz lembrar a música “Monstro de Duas Cabeças”, do Ultraje a Rigor.

Lembra dela, caro leitor?

Só isso explica o fato do mesmo governo que aposta do diálogo amplo na construção do projeto do novo Plano Diretor --com a realização de audiências públicas nos quatro cantos da cidade para ouvir a comunidade sobre um projeto que vai impactar, e muito, a vida de todos nós-- jogue tudo às faz e troque o convencimento pelo rolo compressor quando o caso envolve a Câmara e a aprovação de projetos considerados polêmicos. Isso já havia ocorrido na votação do reajuste da Planta Genérica de Valores, que impacta diretamente no cálculo do IPTU, e na revisão da taxa de lixo. Agora, a mesma tática do vamos-que-vamos se repetiu na votação do projeto que muda as regras de repasse de recursos da prefeitura ao Instituto de Previdência do Servidor Municipal. Com maioria na Casa, o governo decidiu, mais uma vez, chutar o pau da barraca, e mandar a decisão para o plenário.

Não entro aqui na necessidade ou não da mudança proposta por Felício.

Mas chama a atenção o “modus operandi”, extraído ou lições da velha política ou de uma leitura apressada de Maquiavel. A primeira ensina que atos potencialmente negativos, como reajuste de impostos ou tarifas, devem ser adotados logo no início da administração, para deixar ao tempo a missão de diluir seus efeitos na memória popular. O segundo, mestre da arte da política, pregava: quando fizer o bem, faça-os aos poucos; quando for praticar o mal, é fazê-lo de uma vez só. Rápido assim, no vapt-vupt, como ensina o bom e velho Professor Raimundo. O desgaste é menor ...

No caso do IPSM, no entanto, a novela pode ter outro enredo, deixando Maquiavel sentado à beira do caminho.

O Ministério Público havia pedido à Câmara que não colocasse o projeto em votação por um detalhe importante: o texto seria inconstitucional. Votado e a caminho da sanção e da promulgação por Felício, o texto deve ser questionado pelo MP, o que ameaça transformar o caso do IPSM em uma novela judicial. Como nas tramas de Glória Magadan, muita coisa ainda vai passar por debaixo da ponte antes de um final feliz. Se é que chegaremos, algum dia, a esse momento “felizes para sempre”.

Como diz o ditado do futebol, pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube. No caso, se a mudança no IPSM é tão importante, melhor teria sido apostar no diálogo, mesmo que este caminho tivesse sido o mais difícil. Mas a opção do governo, escorado na maioria no Legislativo, foi na direção oposta. Como na letra do Ultraje, que citei lá em cima, o governo é um monstro de duas cabeça,  tem uma que puxa, tem uma que empurra, tem uma que é grande, tem uma que é burra ...

E segue o baile. Meio fora do tom, mas segue ...

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