A hora e a vez do leite
O
Vale do Paraíba acelerando no caminho da reinvenção (redenção) de sua história
no mapa da pecuária leiteira nacional.
Essa
frase bem poderia ser a carta de intenções do LeiteShow, evento que vai
acontecer de 25 a 28 de outubro, no Pavilhão de Exposições de Guaratinguetá,
reunindo representantes de toda a cadeia da produção de leite de São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Promovido pela APCGH (Associação
Paulista de Criadores de Gado Holandês) e pela Girovale (Núcleo de Criadores de
Girolando do Vale do Paraíba), o LeiteShow terá exposições, leilão de gado,
palestras e a última etapa do Circuito Nacional da Raça Holandesa. O evento tem
a sua razão de ser: o Vale do Paraíba é líder na produção de leite no Estado,
com 219,1 milhões de litros de leite tipo B em 2016, segundo dados da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O LeiteShow
buscar atrair a atenção para esse mercado, valorizar o setor e contribuir para ajudar
o produtor a crescer.
O
blog dois:pontos conversou com o presidente da Girovale, Eugênio Deliberato
Filho, 57 anos, sobre o evento e o mercado leiteiro. Produtor de leite em Mogi
das Cruzes e diretor da Cooper em São José dos Campos, Deliberato Filho tem 16
anos na raça e ocupa atualmente a posição de número 1 como melhor
criador/expositor nacional do girolando.
Qual a
Importância do LeiteShow?
O
evento busca resgatar as grandes exposições realizadas em Guaratinguetá nos
anos 70 e 80, que reunia, principalmente, gado holandês, com participação de
produtores de todo o país. Agora, com a união de diversas entidades, surgiu a
oportunidade de retomarmos esse caminho. Estão juntos na realização do
LeiteShow a Associação Nacional de Criadores de Gado Holandês, a Associação
Paulista de Criadores de Gado Holandês, a Girovale, a Prefeitura de
Guaratinguetá e a Serramar. Vamos reunir representantes de toda a cadeia do
leite, entidades, todas as cooperativas da região. Só na girolando, teremos 40
a 50 produtores dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e
Espírito Santo, com 300 animais. O LeiteShow vai abrigar também a última etapa
do Circuito Nacional da Raça Holandesa, isto é, será escolhida em Guaratinguetá
a melhor vaca da raça holandesa do país.
O
evento é uma oportunidade ímpar para os produtores da região. Para a cidade,
serve de incremento ao turismo e aos negócios.
A Girovale é
uma entidade relativamente nova. Você pode falar sobre o perfil da Girovale,
sua história e e suas metas?
A
semente da Girovale nasceu há uns três, quatro anos, com a participação de
vários produtores de girolando da região indo a grandes eventos
no país. Este ano, a Girovale foi criada oficialmente, com diretoria eleita,
endereço, CNPJ, reconhecimento pelas entidades do setor, como a Associação
Brasileira de Gado. E funções definidas: fomentar a raça na região e incentivar
os produtores a registrar seus produtos, os nascimentos, a genealogia do
rebanho. Isso valoriza a atividade. Hoje somos 60 produtores ligados à nossa
entidade, que abrange Vale do Paraíba, Sul de Minas, Sul Fluminense e outras
áreas de São Paulo, como a Alta Sorocabana e a Região Bragantina. E estamos em
expansão, reunindo do pequeno produtor a líderes nacionais.
A produção
nacional de leite em 2015 foi de 34 bilhões de litros, mas, apesar de ser um
grande produtor de leite, o quarto do mundo, o país importa leite para
abastecer o mercado nacional. Como está a indústria do leite hoje na região e
no país?
O
Vale do Paraíba era um mercado leiteiro tradicional, mas sofreu um golpe duro com
o leite UHT (processo utilizado para esterilização de alimentos por meio do
aquecimento e resfriamento imediato), que reduziu a importância da proximidade
da produção do mercado consumidor. Mas o Vale vem reagindo, voltando a ser
destaque no cenário do Estado e do país. Mas a lição de casa que temos pela frente
é muito grande. O girolando é responsável por 80% da produção de leite do país
e o Vale segue esta média. Um dos desafios é melhorar a genética do gado. Para
você ter uma ideia, nem 20% dos produtores do Brasil usam inseminação
artificial, que é uma técnica simples, acessível, que reverte em benefício do
próprio produtor e do seu rebanho.
Os
produtores de leite do Brasil estão pressionando o governo a limitar a importação
de leite do Uruguai, adotando cotas para a entrada do leite estrangeiro no
país. O senhor acompanha essas negociações? Qual a posição da Girovale sobre
isso?
Falta
uma política nacional para o leite, isso é uma realidade. Esse assunto tem sido
tratado pela Abraleite (Associação Brasileira dos Produtores de Leite), entidade
criada este ano e que tem como bandeira a defesa do mercado para o produtor
nacional, a melhora da produção de leite no Brasil. O foco da Girovale é outro,
é criação do gado, a genética do
rebanho. Voltando ao tema, o leite do
Uruguai, assim como ocorreu antes com o leite da Argentina, entra no país via
acordos do Mercosul a um preço muito baixo. Por ser um pacto de governo, o
ministro da Agricultura, Blairo Maggi, se comprometeu a levar esse assunto a
outros ministros envolvidos nos acordos do Mercosul. Mas, por enquanto, não há
uma decisão.
(Aqui vale
um parênteses: uma das propostas dos pecuaristas é alterar a Instrução Normativa nº
11/1999, proibindo a compra para programas governamentais de produto lácteo não
embalado no estabelecimento de origem, além da exigência da redução do período
de validade em prateleira quando internalizado. De acordo com a OCB, o Brasil
foi destino de 86% do leite uruguaio em pó desnatado e 72% do integral, em
2017. Nos primeiros seis meses deste ano foram importadas 41.811 toneladas de
leite em pó do país. A tarifa zero em vigor nos acordos do Mercosul e a
ausência de uma negociação de cota têm desagradado aos produtores)
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