Somos um povo tabajara?
por Marcos Meirelles
A melhor descrição do Brasil de hoje vem, quem diria, de um personagem que se notabilizou por desdenhar de juízes e promotores que ousaram acreditar que, neste país, a Justiça vale igualmente para todos. Para o ministro do STF, Gilmar Mendes, o país tem atualmente um “governo tabajara”.
Faz sentido.
Eu iria além e diria que vivemos em uma “República Tabajara”.
Na República
Tabajara, um presidente flagrado em negociações com mafiosos segue à frente do
palácio com desfaçatez patética, esnobando
deliberadamente qualquer pretensão de popularidade ou de compromisso ético.
Na República
Tabajara, um Congresso movido a propinas pretende votar reformas anti-populares
e criminalizar a investigação de políticos como “abuso de autoridade”.
Nesta mesma
república, há, por fim, dois poderes judiciários. Aquele que serve aos ricos e
aquele que pune os mais pobres.
Na República
Tabajara, há políticos que comportam como governistas envergonhados, mas não
confessam que seu plano, desde sempre, foi empoderar o príncipe trágico, o
cavernoso MacBeth dos trópicos. Estes mesmos políticos, aliás, prestam tributos
diários a anjos decaídos.
Na República
Tabajara, a oposição não sabe se propõe
a antecipação de eleição ou se apoia a derrubada do presidente patético
por via indireta. Seu único cálculo leva em conta a tentativa de voltar ao
poder sob a batuta do líder que se associou à máfia e destruiu sua própria
biografia.
Mas não nos
enganemos. Os métodos e as práticas tabajaras não se limitam a Brasília. Estão
presentes em todos os Estados e em todos os municípios do país.
Essa é a
nossa verdadeira tragédia. Brasília espelha as distorções do Brasil, nossos
valores invertidos, nosso jeitinho, nosso esforço em sonegar impostos, nossa intolerância
às regras e às diferenças entre as pessoas e nosso desprezo pela história.
Somos um
povo tabajara?
Esta é uma pergunta cruel, que deveria estimular uma reflexão de
todos os que ainda acreditam na construção de um país melhor.
Marcos Meirelles é jornalista.
Este artigo foi publicado originalmente na edição do jornal "O Vale" deste final de semana
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