Como 2 e 2 são 5
Desde que o mundo é mundo para mim dentro das diversas
Redações pelas quais passei escuto a mesma ladainha: jornalista não sabe ou não
gosta de matemática.
Será verdade?
Bem, eu sou jornalista há 37 anos e sempre gostei de matemática. Aliás, antes
de ser jornalista já gostava. Do 1 mais 1 ao Cálculo 2, consegui sobreviver bem
do primário à Faculdade de Arquitetura. Mas tenho que admitir: números são um
desafio. Uma casca de banana para muita gente. Isolados, são um perigo. Em
estatística, uma armadilha. Outro dia, este jornal, por exemplo, trouxe uma
informação numérica que me deixou com gosto de quero mais. Ele noticiou que o
governo Felício Ramuth (PSDB) contratou 40 viagens nacionais e internacionais
para o prefeito e secretários em 2017. É muito ou é pouco? Quem é aliado do
governo diz que é o necessário. Quem é contra, torce o nariz. Eu fico na
dúvida. Senti falta de uma comparação, um dado menos subjetivo. Quantas viagens serão feitas em outras
prefeituras do mesmo porte, como, por exemplo, a de Ribeirão Preto ou Sorocaba? Quantas fará João Dória (PSDB) e sua intrépida trupe?
O Manual de Redação de diversos jornais tem uma saída para casos assim: a comparação da grandeza apresentada com algo palpável.
Um exemplo? Quando o Inpe divulga dados de desmatamento na Amazônia, diversos veículos comparam os hectares perdidos a campos de futebol. Eu, que não sou pesquisador, nem ambientalista, nem fazendeiro, mas, sim, um curioso sobre meio ambiente, consigo imaginar o tamanho do problema quando sei que foram perdidos 100, 200 campos de futebol de mata nativa. Como leitor, agradeço.
Esta semana, uma plataforma desenvolvida pela agência FCB Brasil para o
“Estadão” foi premiada no Cannes Lions, o Festival Internacional de
Criatividade, com base neste princípio. Batizada de “Do Real para Realidade”,
ela calcula bens e serviços perdidos com o dinheiro desviado pela corrupção no
Brasil. Da para saber, por exemplo, que quando R$ 52 milhões são dragados pelo
petróleo, são subtraídos dos brasileiros mais de 433 mil doses de vacina H1N1,
631 ambulâncias ou 176 linhas de metrô. É o ralo perverso da corrupção.
Matemática e boas ideias têm tudo a ver com jornalismo.
Este artigo foi publicado originalmente no jornal "O Vale" deste final de semana
Este artigo foi publicado originalmente no jornal "O Vale" deste final de semana
Você falou em comparativo, citando Sorocaba e Ribeirão Preto, mas não nos apresentou números quanto ao número de viagens das autoridades de São José dos CampoCampos. Vamos aguardar...
ResponderExcluiros números de São José estão no texto: foi aberta uma ata de preços para 40 viagens ...
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