Jornalismo 4.0

Rafael Kapplenbach (Rogério Marques/O Vale)

O jornalismo impresso é uma vaca leiteira com úbere cheio, que deve ser ordenhada até a última gota de leite, mas sem chance de procriar.

Com essa visão bem humorada, o jornalista uruguaio Rafael Kapplenbach, diretor para a América Latina da agência Cases i Associates, um dos três principais escritórios de redesenho de jornais do mundo, terminou sua palestra no Fórum O VALE de Jornalismo, realizado em São José dos Campos,  na última segunda-feira. Terceiro palestrante a falar, Rafael apresentou no painel “Jornalismo 4.0”, um panorama do mundo da informação em transformação cada vez mais acelerada e sentenciou, com uma boa dose de ironia: se as empresas e os jornalistas continuarem a insistir pelo caminho do impresso, vamos  todos passar fome no futuro.

E quando o impresso deixará de existir?

-- Não se tem idéia disso. Um editor inglês respondia isso com o numero 36. Para ele, era, na ocasião, a idade da pessoa mais jovem que ele conhecia que aceitava pagar do seu próprio bolso por um exemplar de jornal impresso. Como essa piada é antiga, hoje o número já deve ser 40, 42 – disse Rafael.

O caminho, segundo ele, é os veículos se adaptarem cada vez aos leitores, que vivem em um mundo em transformação.

Para Rafael, os veículos tradicionais têm uma vantagem considerável, que é a chancela da informação. Isto é, credibilidade. Esse é um patrimônio importante em um universo de informações inexatas e das chamadas fake news, as informações falsas que pululam aqui e acolá (em 2016, algumas das informações mais compartilhadas nas redes sociais eram falsas).

Mas isso não basta. Alguns cuidados são básicos.

É preciso conhecer o público em detalhes, a exemplo do que fazem, por exemplo, Google e Facebook: suas preferências, seus hábitos, seu rol de amizades, sua rotina de consumo de informação e entretenimento, não mais como grupo, mas como indivíduos. Com uma observação: conhecer e medir sua audiência são tarefas não apenas das empresas, mas de cada jornalista que atua nos veículos. “Quantas pessoas leram a nota que eu escrevi? A que horas? Esses são dados importantes para conhecer o leitor e fornecer a ele o que ele gostaria ou têm interesse em consumir”, disse.

Mais ...

A batalha pela atenção das pessoas hoje está sendo travada nos dispositivos móveis. Por isso é imperativo pensar a informação a partir de plataformas responsivas e de fácil manejo. As páginas, em especial as home pages, devem ser mais simples, mais fáceis de carregar e mais concisas.

-- Dos 50 sites mais vistos no mundo, 39 estão na lista em razão de dispositivos móveis – afirmou.

O Facebokk é hoje, segundo  o dirigente de Cases para a América Latina, a chave para conquistar público e um público cada vez mais jovem. Isto é, gerar audiência, fazer com que um número cada vez maior de pessoas compartilhe informações e conteúdo. “Mas é preciso ter uma estratégia para trabalhar não para o Facebook, mas para as nossas marcas”, disse. Tradução: é preciso aumentar a audiência no Facebook, ampliar a difusão da marca e dos conteúdos no meio e gerar receitas com os conteúdos distribuídos ali.

Apesar de pregar para as redes, o jornalista, responsável pelo revisão do projeto gráfico e editorial de “O Vale”, ainda enxerga muitas possibilidades no jornalismo impresso, pelo menos antes da vaca parar de dar leite.

-- Existe uma tendência de jornais mais compactos, mais adaptados ao tempo do leitor e mais interessantes. Para o impresso, fica o jornalismo gourmet, com mais qualidade, profundidade e diferenciado. Para a web, fica o jornalismo fast-food, rápido – disse.

Bem, esse é um mundo em transformação.

Rafael listou algumas dessas mudanças registradas apenas na semana anterior do Fórum: o grupo espanhol Prisa, que edita o “El País”, anunciou que o on-line já é responsável por 47% de sua receita total; bancos começaram a testar o contacless, um app que vai aposentar os cartões de débito e os cartões de crédito; Facebook e Google, pressionados pelas fake news, decidiram contratar editores de conteúdo para dar ordem ao aços; o maior jornal de Curitiba, “A Gazeta do Povo”, anunciou que a partir do final de maio vai circular apenas on-line, descontinuando sua edição impressa; e Mark Zuckerberg disse que, em breve, smartphones e afins deixarão de existir. O que virá?
Realidade aumentada.

Um admirável mundo novo ...


Em tempo

O Fórum O VALE de Jornalismo, realizado pelo jornal “O Vale”, teve apoio da empresa Matéria Consultoria & Mídia em sua organização. A cada dia, o blog "dois:pontos” vai publicar um resumo das palestras do Fórum. Amanhã tem a palestra de Regina Augusto, consultora na área de mídia. Até lá.

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