O guardião do cofre
Na sala de espera, é um entra-e-sai de gente administrado atentamente pela secretária, Benny. É ela que põe ordem no caos, cuida dos despachos burocráticos, libera ou veta o acesso ao gabinete, cuida da agenda quase sempre lotada e ainda encontra tempo para oferecer água e café para quem espera para conversar com o secretário.
-- Ele está? Está muito ocupado? – pergunta à porta Leônidas
Pantaleão de Santana, recém-desligado da Secretaria de Proteção ao Cidadão.
À resposta de que a sala está cheia e agenda atrasada,
Pantaleão, coronel da reserva da PM, de jaqueta de couro e capacete de
motociclista nas mãos, pede apenas que a secretária avise que ele passou por
ali. Logo depois chega seu sucessor, Antero Alves Baraldo, há uma semana no
cargo, major da reserva da PM, para uma conversa de 5 minutos. Na sala principal
já estão a secretária de Educação e Cidadania, Cristine De Angellis Pinto, e
pelo menos seis funcionárias administrativas. O entra-e-sai da sala demonstra a
urgência da reunião. Na antessala, não é menos intenso. Em menos de meia-hora
mais de 15 pessoas passam por ali. Uma funcionária da EDP Bandeirantes espera a
assinatura em um documento.
-- É sempre assim? – pergunto.
-- Hoje está mais calmo – responde a secretária, com naturalidade.
-- Hoje está mais calmo – responde a secretária, com naturalidade.
O movimento tem uma razão: com a reforma administrativa
implantada pelo prefeito Felício Ramuth (PSDB), que enxugou e fundiu pastas, a
Secretaria de Gestão Administrativa e Finanças virou, na prática, uma supersecretaria.
Mais: com o contingenciamento de gastos adotado por Felício em razão das
dívidas herdadas do governo Carlinhos Almeida (PT), todas as autorizações de
compras e de pagamento acabam passando por ali. Está ali a chave do cofre, como
nas gestões passadas. Mas está ali também a parte de compras e licitações,
assim como a gestão de pessoal e as negociações com o Sindicato dos Servidores
Municipais, por exemplo. Em uma prefeitura com caixa baixo, a função do titular
da pasta e de sua equipe é cortar gastos e encontrar mecanismos de gerar
dinheiro.
Quando a porta abre, após uma espera considerável, o
secretário é amigável:
-- Desculpe o atraso – afirma José de Mello Corrêa.
Oferece mais um café e indica para sentarmos em um jogo de
sofás de dois lugares, um de frente do outro, separados por uma mesinha. Uma TV
desligada completa o ambiente. Nela, uma das marcas do aperto de cinto
determinado pelo governo: o plug da TV a cabo está desligado. A prefeitura pagava
mais de R$ 7.000 por mês de TV a cabo antes da canetada de Mello ter derrubado
o gasto para pouco mais de R$ 600, restringindo o serviço para a Assessoria de
Imprensa e para a Secretaria de Governança. O corte faz parte da ampla lista
dse economias que a pasta se propôs a fazer. No outro lado da sala, uma ampla
mesa, ao lado da janela, traz as marcas de uma reunião longa.
-- Dia corrido? – pergunto.
-- Muita coisa para fazer – responde o secretário, fazendo um breve relato do corre-corre das últimas horas vividas nesta tarde de quarta-feira, emendando em seguida: “Tenho uma notícia fresquinha para você.”
-- Muita coisa para fazer – responde o secretário, fazendo um breve relato do corre-corre das últimas horas vividas nesta tarde de quarta-feira, emendando em seguida: “Tenho uma notícia fresquinha para você.”
Depois de atrasar as contas de água e luz em 2016, a
Prefeitura de São José dos Campos fechou acordos com a Sabesp e a EDP
Bandeirantes que não apenas afastam o risco de corte de serviços, mas também geram
ganhos para o município. “O documento com a EDP foi assinado agora há pouco”,
disse. “Essa era a pressa da funcionária da EDP”, penso eu. Com os acordos com
a Sabesp e EDP, a prefeitura adere aos projetos Pura (Programa de Uso Racional
da Água) e de Eficiência Energética, respectivamente, que, entre outros ganhos,
premiam o pagamento em dia com tarifas mais baixas.
-- Quanto tempo até colocar a casa em ordem? – pergunto.
-- Olha, conseguimos corrigir diversas distorções, resolver muitos problemas e enxugar muita coisa. Tivemos avanços. Conseguimos aprumar 80% do possível, agora temos outros 20% para correção fina, ajustes pontuais. Mas, para colocar tudo em ordem, pagar as dívidas, ainda leva uns 16 meses – respondeu.
-- Olha, conseguimos corrigir diversas distorções, resolver muitos problemas e enxugar muita coisa. Tivemos avanços. Conseguimos aprumar 80% do possível, agora temos outros 20% para correção fina, ajustes pontuais. Mas, para colocar tudo em ordem, pagar as dívidas, ainda leva uns 16 meses – respondeu.
Logo no início do governo, a comissão especial nomeada por
Felício para investigar as contas da prefeitura (formada por Mello, Anderson
Faria, secretário de Governança, e Melissa Pulice da Costa Mendes, secretária
de Apoio Jurídico) anunciou que o novo prefeito tinha herdado
uma dívida de R$ 306 milhões da gestão Carlinhos Almeida (PT), R$ 185 milhões
em dívidas gerais com fornecedores e serviços (água, luz, Próvisão, Valeclin,
Hospital Municipal, entre outros) e R$ 121 milhões devidos ao Instituto de
Previdência do Servidor Municipal. “O
governo anterior deveria ter pisado no freio em março de 2016, quando o cenário
já se mostrava complicado, mas não fez isso. Ao contrário, acelerou. Em um ano
normal, um prefeito gasta 5% do Orçamento em investimento em obras. (Carlinhos)
gastou 15%”, disse.
Dos R$ 185 milhões herdados, Mello calcula ter restado R$
130 milhões ainda a pagar.
Para isso, não resta dúvida, é preciso apertar ainda mais o cinto. O que está sendo feito e o que resta fazer? Isso é tema para outro post
Para isso, não resta dúvida, é preciso apertar ainda mais o cinto. O que está sendo feito e o que resta fazer? Isso é tema para outro post
Amanhã, o caminho das pedras:
as medidas que podem tirar a Prefeitura de São José dos Campos do vermelho, algumas criativas, outras doloridas
as medidas que podem tirar a Prefeitura de São José dos Campos do vermelho, algumas criativas, outras doloridas
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