Meu filho Pernalonga

Ivanzinho & Ivan ...

Ele me chama de velhinho, eu o chamo de Pernalonga.
Mas os apelidos não param por aí.
Provocar um ao outro é um esporte familiar praticado há anos, sempre com bom humor, por mim e pelo meu filho Julio. Aliás, bom humor é a marca registrada dele, o terceiro de quatro filhos, que hoje completa mais um ano de vida.

Seu sorriso largo indica isso.

Sua capacidade de atrair amigos, de ser querido pelos irmãos, de trazer alegria para as pessoas que o rodeiam é outro de seus dons. É um cara de bem com a vida, apaixonado ...

Mas, como nem tudo é perfeito, herdou da família duas características cruéis: a teimosia, que surge, quase sempre, quando está trabalhando (Julio é jornalista, como eu e seus irmãos Guilhermo e Felipe), e a unha do pé direito, que teima em encravar, um problema passado de geração a geração. E rompeu, Deus do céu, com outra: em uma família em que ser corintiano é tradição, Julio se inventou palmeirense. Isso me obrigou a atos heroicos quando ele era mais novo: entrar na loja de esportes e comprar uma camisa do Palmeiras. Logo eu, corintiano até a raiz do cabelo. O que não se faz por um filho? Na época de ouro da Parmalat, quando o time do Parque Antártica lançava uma camisa atrás da outro, o vendedor da loja achava que eu era um torcedor fanático do Palmeiras. Viximaria ...

Mas amor pelo filho é amor pelo filho. Nos bons e nos maus momentos.

Anos mais tarde, essa máxima se mostrou uma engraçada via de mão-dupla.
Explico: eu, Guilhermo e Felipe íamos aos jogos do Corinthians sozinhos até que um dia Julio reclamou: E eu?. Ué, você torce contra a gente, respondemos.  A tréplica dele foi exemplar: mas isso é do futebol, eu quero é ter o prazer de ir a um estádio com meu pai e meus irmãos. Pois é: lá fomos nós, três corintianos e um palmeirense, em família, assistir a Corinthians e Flamengo, na despedida do Timão do Pacaembu. Com um detalhe: estádio cheio, sem  ingresso nas numeradas e setor família, acabamos na Gaviões da Fiel, debaixo do bandeirão. Se sair gol contra a gente, não festeje, brinquei. 
Não precisou: ganhamos por 2 a 0.

Saímos do estádio felizes por estarmos todos juntos, com a promessa, ainda não cumprida, de um dia irmos à Arena Palestra ver um jogo do Verdão. Vamos combinar.

(Aqui vale um parênteses: quando o Corinthians perde, o que, pela minha ótica, é raro, raríssimo, de quem é o primeiro telefonema, o primeiro whatzapp, o primeiro sinal de fumaça que recebo? Ora, do Julio. Quando o Palmeiras joga, quem desliga o telefone, se esconde debaixo da cama, cobre a cabeça e não responde nem a SOS do Titanic afundando em sua porta? Ora, o Julio. Fecha parênteses)

Voltando, dizem que, dos filhos, é o que mais parece comigo. Com certeza.
Na guerra de apelidos, ele me chama de Ivan, graças a uma semelhança que eu teria com o cantor Ivan Lins. Bem, se eu sou o Ivan, Julio é o Ivan Junior. Mas nenhum de nós canta “Madalena”, primeiro e um dos maiores sucessos de Ivan Lins, o verdadeiro. Talvez para escapar da cara do pai e do cantor ele tenha deixado a barba crescer. Talvez para parecer mais velho, como eu fiz, entre os 18 e os 30 anos. Vai saber ...

O que eu sei é que, ao seu lado, meu coração se enche de alegria.
Sua presença tem o poder de fazer a minha alma brilhar como o sol em um quintal, como um menino com um brinquedo novo, como quando o vi pela primeira vez, pequenino, ainda sem nome. Como é possível amar alguém mais do que a você mesmo? Essa pergunta, quem é pai ou mãe, sabe responder muito bem. Como é possível amar, com a mesma intensidade, cada um dos filhos? Essa é mais difícil de responder (afinal, é preciso ter mais de um filho, pelo menos), mas é muito gratificante: basta conhecer cada um pelo que ele é, com suas diferenças, qualidades e defeitos.

Lembro de diversas fases desse cara: do Julio que falava pouco (isso mudou e muito); do Julio que fingia dormir na sala de aula e não estudava em casa, mas tirava sempre as melhores notas da sala; do Julio que sempre come devagar e faz, com sua simpatia, com que todos estiquem a refeição para tentar, em vão, acompanhá-lo; do Julio que ainda beija meu rosto todas as vezes em que nos encontramos; do Julio que, jornalista como eu, optou por começar a carreira longe de mim, talvez por acaso, talvez por aptidão, talvez para conquistar logo seu próprio espaço (viemos a trabalhar juntos anos depois), entre tantos outras.

Pernalonga, Fubá, Juca, Juquinha, Ivanzinho ...

Os apelidos vão além muito desses.
Mas não importa como um chama o outro, Julio é um filho de ouro, que me enche de orgulho e cuja simples lembrança me traz felicidade e estampa um sorriso na minha cara. E, mais importante: agora, homem feito, de barba, namorada, gente importante, com salário e carteira assinada, ele pode comprar suas próprias camisas do Palmeiras. Ainda bem ...

Beijo, carinho, feliz aniversário ...

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