O endereço do Gripen NG

O caça Gripen NG, que vai reforçar a FAB

O presidente da Akaer, Cesar Augusto Andrade e Silva, defendeu hoje, durante almoço no Ciesp, o que todo mundo sabe, menos o governo federal: é mais fácil e mais barato concentrar toda a produção do caça Gripen NG em São José dos Campos.

Agora, resta combinar com os russos.

Em palestra que durou uma hora e meia, César Augusto propôs ações para revigorar o maior parque aeronáutico do país ao invés de criar uma nova fábrica de aviões no ABC, como prevê o cronograma de produção do programa F-X2, definido no governo Dilma Rousseff (PT).
Em linhas gerais, são ações simples: ao invés de enterrar R$ 32 milhões em São Caetano para construir uma fábrica para montagem do jato desenvolvido pela sueca Saab e investir mais R$ 32 milhões em São José para produção de peças e desenvolvimento do caça, é possível investir R$ 64 milhões diretamente em São José. “São José já tem estrutura montada. Em São Caetano, estão agora na fase de buscar um terreno para a instalação da fábrica”, disse o executivo.

Para César Augusto, o investimento em um parque já montado gera mais empregos, tem efeito mais direto no PIB e aumenta a arrecadação de impostos. Segundo ele, seriam 50 empregos no ABC contra 500 em São José.

É possível reverter isso?

A decisão de incluir o ABC no mapa do Gripen foi política e leva a digital do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), interessado em reforçar a presença do PT na região e em prestigiar diretamente o então prefeito de São Caetano, Luiz Marinho, à época uma estrela em ascensão no Partido dos Trabalhadores. É preciso entender que ela foi tomada antes dos escândalos da Lava-Jato, em um tempo em que o PT sonhava em ficar mais 20 anos no poder. Hoje, o xadrez político mudou. Dilma é ex-presidente. Lula virou réu de diversas ações judiciais e está no prende-não-prende. E o PT, quem diria, perdeu o controle político do ABC. O atual prefeito de São Caetano, acredite, é tucano: José Auricchio Junior.

Mas a decisão foi tomada lá atrás.
E a SBTA (São Bernardo Tecnologias Aeronáuticas), parceria entre a Saab e o grupo InbraFiltro, de Mauá, está na parada. Qual o caminho das pedras?

Para lideranças empresariais reunidas no Ciesp, o caminho é criar um movimento político em defesa do polo aeronáutico de São José dos Campos.
Presente na reunião, o secretário de Inovação e Desenvolvimento Econômico de São José, Alberto Mano Marques, disse que o governo Felício Ramuth (PSDB) já trabalha com a questão e está interessado no projeto defendido pela Akaer. Ex-secretário de Desenvolvimento Econômico no governo Carlinhos e com ligações históricas com o PPS, Osman Cordeiro se propôs a buscar apoio do ministro da Defesa, Raul Jungmann, do PPS, para a ideia.

No que isso vai dar?

É um jogo político pesado, mas a ideia do presidente da Akaer tem lá sua lógica.
E geraria, claro, um forte impacto, em cascata, no parque aeronáutico de São José dos Campos, que ganharia musculatura considerável. Traduzindo: recursos, possibilidade de novos negócios, empregos e geração de riqueza.  O que a Akaer ganha com isso? Inicialmente, mercado e novas perspectivas. Atualmente, a Saab detém 25% do controle da Akaer, com potencial de chegar a 40%.

Essa proposta pode provocar a revisão do contrato do F-X2, de US$ 5,4 bilhões, para a compra de 36 caças Gripen NG?

Para César Augusto, não.
A decisão sobre o endereço das fábricas no Brasil depende apenas da Saab. Mas ela não vai tomar decisão alguma sem o aval do governo brasileiro, segundo ele. Bem, que rolem os dados. São José tem potencial instalado para assumir o projeto. Afinal, a Embraer, parceira da Saab no F-X2, tem sua sede na cidade. Agora, vamos ver se São José também tem potencial político para entrar nessa briga. E é uma briga de cachorro grande.

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