Relações perigosas entre Paço e Câmara
Foto: Reprodução Facebook Câmara São José |
Ao falar no evento de 20 anos da criação do curso de Gerente de Cidades da FAAP, em São José dos Campos, semanas atrás, o engenheiro Ozires Silva sugeriu ao prefeito eleito Felício Ramuth (PSDB) e aos novos vereadores uma mudança na Lei Orgânica do Município que permitisse a realização de plebiscitos locais como forma de decidir questões pontuais. “Seria uma forma de evitar que questões importantes acabassem paralisadas pela relação nem sempre transparente em prefeitura e Câmara”, disse.
A crítica de Ozires tem endereço
certo.
Ele não esconde seu descontentamento
com a forma como o projeto de instalação do WTC (World Trade Center) foi
tratado pela Câmara de São José. Acenando com a promessa de um investimento de
R$ 1 bilhão em cinco anos, o WTC, representado por Ozires, previa a instalação
de 35 torres na área mais cobiçada do Jardim Aquárius, em um megaempreendimento
que incluía hotel, centro de convenções, centro de negócios, shopping center,
lagos e ciclovias à beira da avenida Cassiano Ricardo. Bastava mudar a Lei de
Zoneamento. Emparedado pelo confronto político entre o prefeito Carlinhos
Almeida (PT) e o presidente da Câmara, Shakespeare Carvalho (PRB), o projeto
acabou virando poeira.
A sugestão do plebiscito também deve
ter vida curta, mas serve de pretexto para uma discussão necessária: qual a
relação ideal entre prefeitura e Câmara?
No governo Carlinhos, a relação
Executivo-Legislativo foi do céu ao inferno. Com sua mulher, Amélia Naomi (PT),
à frente da Câmara entre 2013 e 2014, Carlinhos misturou público e privado,
transformando debate político em assunto doméstico. Era a Câmara do amém, que
aprovava tudo o que o Executivo queria. Com Shakespeare, a partir de 2015,
Carlinhos viveu o outro lado da moeda. Era a Câmara da crise, que rechaçava
projetos do Executivo e impunha medo ao Paço. Nenhum dos dois modelos fez bem à
cidade. Assim como não fez bem, ao longo do tempo, o modelo de parlamentarismo
municipal construído no primeiro governo Emanuel Fernandes (PSDB), por obra e
arte de Antonio Alwan e Jorley do Amaral. Esse modelo acabou adotado, por
inércia, pela gestão Eduardo Cury (PSDB). Nele, vereadores aliados tinham
direito a cota de cargos e obras em troca de alinhamento ao governo. Esse pacto
garantiu paz política a Emanuel e Cury, mas reduziu a Câmara a um anexo do
Paço, com direito a chantagens e pressões de quando em quando.
Que modelo será adotado por Felício
Ramuth (PSDB)?
Essa pergunta começará a ser
respondida a partir da eleição do novo presidente da Câmara, em janeiro, de
acordo com o grau de interferência ou não do novo governo no processo. Por
enquanto estão no páreo Fernando Petiti (PSDB), Juvenil Silvério (PSDB) e Walter Hayashi (PSC). Mas tem
gente correndo por fora, como Valdir Alvarenga (SD), Roberto do Eleven (PRB) e
Dulce Rita (PSDB).
No mundo ideal, os dois poderes deveriam ser independentes. Vamos ver como vão
funcionar na prática a partir de janeiro.
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