A menor distância entre dois pontos

Jackson Pollock


Aprendi nas aulas de geometria que a menor distância entre dois pontos é uma reta. Aprendi com o jornalismo que escrever bem é escrever simples.

A simplicidade é uma arte.

Oscar Niemeyer usou linhas simples para criar prédios, museus, praças, cidades de concreto a partir do nada. Le Corbusier, Frank Lloyd Wright, Renzo Piano fizeram da arquitetura arte. Na Capela Sistina, Michelangelo traduziu o Velho Testamento no mais puro estado do belo. Jackson Pollack fez isso na arte abstrata. E que mistérios esconde ainda Leonardo no sorriso singelo de Gioconda? Na literatura, palavras, simples palavras, ganharam poesia e força na imaginação de Shakespeare, Cervantes, Cabrera Infante, Jorge Amado. Simples como os dribles de Garrincha e os gols de Pelé, o universo traduzido por Einstein, a batida da Bossa Nova, os parangolés de Hélio Oiticica. Simples e geniais. Nada mais simples e, ao mesmo tempo, nada mais genial e pleno que o primeiro verso do Evangelho de São João: no princípio era o Verbo ...

Para mim, a simplicidade é a chave.

Tudo isso, dito de forma didática, serve de pano de fundo para um desabafo: confesso que fiquei confuso com o nome das novas secretarias idealizadas pelo prefeito eleito Felício Ramuth, de São José dos Campos. A Secretaria de Governo virou Secretaria de Governança. A antiga SSM, Secretaria de Manutenção da Cidade. E assim foi: Transportes virou Mobilidade Urbana, Obras virou Gestão Habitacional e Obras, Planejamento acabou transformada em Urbanismo e Sustentabilidade. Modernidade? Reforma? Para mim, com toda franqueza e com o perdão da brincadeira, parece mais Rolando Lero trocando seis por meia dúzia.
Com todo respeito ao viés que separada PSDB e PT, essa nomenclatura lembra, para mim, os slogans do governo Dilma Rousseff, do tipo Pátria Educadora.  Ou, para ser mais radical, a novilíngua de George Orwell. É palavra demais para dizer a mesma coisa ...
Confesso que fiquei preocupado com o futuro governo.
Esse temor refluiu esta semana com o anúncio de parte do secretariado de Felício. Trata-se de uma equipe técnica, com viés político e aproveitamento de funcionários de carreira, como CristineDe Angelis Pinto na Educação e Paulo Roberto Guimarães Junior na Mobilidade Urbana. O trio de ferro do governo está escalado –Anderson Farias (Governança), Alberto Mano Marques na Inovação e Desenvolvimento Econômico e José de Mello Corrêa na Gestão Administrativa e  Finanças. Completam o time Oswaldo Huruta (Saúde), Marcelo Manara (Urbanismo), José Turano Junior (Obras), Edna Tralli (Apoio ao Cidadão), Ricardo Minoru Iida (Manutenção da Cidade). No frigir dos ovos, bons nomes. 
Tomara que eles consigam traduzir, na prática, algumas boas ideias de campanha: apostar na gestão pública, nas ações integradas e na simplificação da máquina pública.

Tirando a nomenclatura de Rolando Lero (será mera implicância minha? Pode ser), o governo do PSDB tem tudo para começar com o pé direito. E vai precisar: pelas informações preliminares, a administração Carlinhos Almeida  promete deixar uma herança das mais perversas. Quem viver, verá. Mas isso já é tema para outra coluna ...


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