Uma conversa noite a dentro

 

Guilhermo, safra de 1981

Outro dia, Guilhermo, meu filho, postou uma foto que eu gosto muito e, pelo jeito, ele também ...

A foto mostra Guilhermo bem pequeno, dormindo sentado no carrinho de bebê, com um jornal na mão. Minha memória diz que era um exemplar do antigo “ValeParaibano”, onde, à época, eu era repórter. Meu filho escreveu: Jornalismo, safra de 1981. Talvez tenha nascido ali, não sei, o amor dele pelo jornalismo. Talvez tenha brotado em outra hora. Sei que eu, Hélcio, descobri que Guilhermo tinha o espírito curioso de jornalista alguns anos depois. Foi assim: cheguei em casa do jornal tarde da noite e o encontrei acordado, brigando contra o sono. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa e ele respondeu que precisava muito falar comigo. Ele tinha visto algo na TV, mas não tinha entendido direito. “Pai, o que o senhor acha dessa guerra na Faixa de Gaza?”, disse, curioso. Como explicar para um garoto de 5, 6 anos, um conflito complicado, que já durava (e ainda dura) gerações, séculos? Levei-o para a cozinha, fiz um lanche para a gente e tentei explicar a ele a primeira Intifada, a chamada “guerra das pedras”, que abalou Gaza e a Cisjordânia em 1987. Não me lembro direito do que disse, nem como disse, nem ao menos o que comemos, lembro somente do Guilhermo acompanhando atento o que eu dizia, com os olhos fixos em mim. Terminado o lanche e a conversa, Guilhermo foi dormir, satisfeito. Naquela noite tive a certeza que ele seria jornalista, como eu. Hoje, Guilhermo é editor-chefe do jornal “O Vale”. É um jornalista criativo, experiente, dono de rara sensibilidade. Ele tem o dom das palavras. Confesso que muitas vezes me surpreendo com as coisas que ele cria à frente do jornal. Fico feliz. Com orgulho, sei que ele é muito melhor jornalista do que eu. Isso é bom. A lembrança daquela noite de 1987 é, para mim, um instante de felicidade, vívido na memória. Guilhermo com seus olhos grandes fixos em mim, mas com a cabeça em outro lugar, longe, bem longe, quase do outro lado do mundo, pensando: porquê? Essa perguntinha faz de todos nós, jornalistas, seres extremamente curiosos, irriquietos.

Segue o baile ...


Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas