Reflexões sem reflexo algum

Jurássicos?

Tenho escrito muito sobre jornalismo. 

Bem, fazer o que. O jornalismo ocupa quase 40 dos 59 anos de minha vida e é inevitável falar dele de vez em quando, embora, atualmente, esteja falando dele de vez em sempre. Mas, vá lá, sou teimoso e vou continuar enquanto eu quiser. Então, vamos lá. Aprendi algumas coisas na profissão. Vou listar algumas, até para servir de reflexão. Uma reflexão sem reflexo algum, mas que pode render um bom bate-papo. São elas, sem ordem de importância:

- É preciso respeitar o leitor ou, mais moderno, o consumidor de informação. Ele sabe, muitas vezes mais que os jornalistas, o que é um bom jornal, um bom produto. Muitas vezes brinquei, com uma ponta de seriedade, que quem entende de jornal é o leitor, não os jornalistas. Brinquei, mas é a mais pura verdade.

- É preciso respeitar a notícia. E nosso papel, muitas vezes, é apenas narrá-la.

- É preciso aceitar críticas. Nós não somos donos da verdade. Assim como colocamos nossa versão de um fato para o público, nossa opinião, essa versão e  essa opinião podem ser contestadas. Faz parte do jogo.

- É preciso registrar as críticas recebidas. É democrático e reforça a sua posição frente a seu público. Afinal, quem não deve, não teme.

- O "outro lado" é tão importante quanto a a notícia principal, não mera formalidade.

- Todo fato tem diversas versões. Nosso papel não é assumir uma delas, mas tentar mostrar a maior  delas. O contraditório é a alma do bom jornalismo, não a escolha, pura e simples, de um dos lados.

- A tecnologia é sempre aliada, basta saber trabalhar com ela.

- De quando em quando, um jornal ou um veículo deve lembrar a seu público de seus valores como defensor da liberdade de expressão, de instrumento de busca da verdade, de baluarte da democracia, de fiscalizador do poder público. De quando em quando. Gritar isso aos quatro ventos dia sim, dia não, não soa bem, cansa. Afinal, que lê o jornal, escuta a emissora de rádio, assiste à TV já deve saber tudo isso. Ou teria já trocado você por outro ...

- Mais importante que falar é preciso saber ouvir.

- Tem um chiste famoso que diz que médico pensa que é Deus, jornalista tem certeza. Nada mais errôneo. Não somos uma classe diferente, nem o exercício da profissão nos torna pessoas melhores do que as outras. Torna alguns de nós mais céticos, claro, e, outros, mais cínicos, o que é uma pena. Mas somos gente comum.  Sem ter consciência disso, fica complicado manter os pés no chão.

- Jornais são feitos por pessoas e para pessoas.

- Acertou, faz parte. Errou, corrija. Fazer um bom trabalho é a sua obrigação. O erro é o ponto fora da curva. Errou, errou, fim de papo. Não busque desculpas para o erro. Assuma o erro e as consequência dele. Não tenha compromisso com o erro.

- Escreva simples, traduza a informação e deixa a notícia ao alcance de qualquer pessoa. Quanto mais pessoas você atingir, melhor. Não estou falando apenas de audiência, pontos no Ibope, alcance on-line, mas, sim, de democratização real da informação. Para chegar lá, repito, seja simples.

- Redações não podem ser herméticas à sociedade.

- Pense fora da caixa, ouse, olhe para onde os outros não estão olhando. Esse é um exercício diário importante. Ao contrário de ir atrás do que todos estão cobrindo, busque o inusitado, o esquecido, o enfoque diferenciado.

- Informação tem que ser exata. Por isso, a apuração é a chave de nosso trabalho. Números, dados, estudos, estatísticas, declarações bem encaixadas ajudam a construir uma boa narrativa e, por tabela, uma informação bem embasada. Muito e pouco são avaliações imprecisas. O bom jornalista tem a mania de nunca ficar feliz com a sua apuração, tem sempre a sensação de que poderia ter algo a mais. Notícia mal apurada é um passa-moleque no consumidor de informação. Eu, como leitor, detesto apuração com o pé-quebrado.

- Se você puder usar 10 palavras para escrever ou produzir a sua notícia, use. Dá para usar menos, parabéns. Palavras além da conta funcionam como ruído de informação.

Agora chega, já dei pitacos demais, cansei. É assim que eu penso jornalismo, mas este é o meu ponto de vista. Não acho que estou 100%, nem 100% errado. Cada jornalista tem a sua cabeça, sua bagagem pessoal e profissional, seu jeito de encarar a profissão. Quem concordar, ok, arrisque um palpite, aumente o debate; quem discordar, dê a sua opinião, vamos lá, sem medo de ser feliz. E segue o baile ... 









Comentários

  1. Prezado amigo e companheiro Hélcio, não me surpreende sua reflexão, profunda, honesta, correta, ela serve como balizamento para a prática do bom jornalismo, de quem se ocupa de bem informar, uma cartilha para todos, focas e veteranos, se me permite andarei com esta sua reflexão como meu catecismo particular , e buscarei nela inspiração para minha prática no trabalho. se me permite. Obrigado por esta aula gratuita ela nos faz bem, oxigena nossa inteligência e ensinamentos. Um grande abraço,

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  2. agradeço pelo carinho, mas não é aula não, Rosemary.
    só quis dividir as poucas certezas que tenho sobre a profissão que me desafia há tempos. são, como disse no título, reflexões. minha intenção é abrir debate, compartilhar experiências, encadear uma boa prosa. abraço grande

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