Primeiro o rio, depois ...


A construção de pontes sempre fez parte do repertório de anedotas políticas do Brasil. Não é para menos ...

A mais famosa tem como personagem Adhemar de Barros, governador de São Paulo, inventor do “rouba, mas faz”, aperfeiçoado, segundo as más línguas, por Paulo Maluf. Diz a história que Doutor Adhemar discursava em uma cidade do interior quando emplacou a promessa:
-- Se eleito, foi construir uma ponte nessa cidade.
Assustado, um correligionário cochichou no ouvido do manda-chuva do Estado: “Doutor Adhemar, essa cidade não tem rio.” Apegado ao seu lema de governo, “Fé em Deus e Pé na Tábua”, Adhemar não titubeou:
-- Não tem problema, nada deterá o progresso. Primeiro faremos o rio.

Bem, essa história me veio à cabeça quando o governo Felício Ramuth (PSDB) tirou da cartola o projeto da ponte estaiada, batizado de Arco da Inovação. Na verdade, projeto do governo Eduardo Cury (PSDB), deixado de lado por ter sido considerado caro demais frente a outras prioridades de São José dos Campos. Mesma visão teve Carlinhos Almeida (PT). Bem, aplicando na política a Lei de Lavoisier, onde nada se cria, nada se perder, tudo se transforma, o projeto virou a salvação da lavoura, a obra do século, a ligação entre o presente e o futuro de São José. Bastou ser anunciado e o Fla-Flu entre governo e oposição se instalou.  Quem defende a obra posa de progressista. Quem ataca é taxado de reacionário, gente de pouca visão, misto de mortadela com troglodita.

Pura bobagem ...

Pensei muito no assunto antes de escrever, conversei aqui e ali, ouvi gente pró e gente contra e não mudei de opinião: a obra é ótima, necessária, mas não agora. A cidade tem outras prioridades na área de transporte e, para seguir a cartilha dos bons planejadores urbanos, deveria investir no transporte de massa e em soluções viárias mais baratas e mais abrangentes (como contraponto disso, a publicidade oficial fala que a obra vai melhorar 18 linhas de ônibus). Sem medo de errar, o Arco da Inovação é uma peça de marketing paga com dinheiro público. E pode bater, de longe, os R$ 64 milhões anunciados. Quem aposta? Falta a ela o básico para fixação de preço final: um projeto. Tem maquete, animação eletrônica que lembra um autorama, tem festa e oba-oba, mas a ela falta o principal. Por esse exato motivo, a obra do novo Fórum passou de R$ 4 milhões para R$ 28 milhões e se arrastou por muito tempo, sendo entregue com oito anos de atraso. 
E segue o baile ...


Mas vamos pensar positivo. Diferentemente da história do velho Adhemar, na região da ponte estaiada já existe rio, o Vidoca. Menos mal ...

Comentários

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  2. Caro Hélcio
    Ainda bem que deram o nome de Arco da Inovação, já imaginou se fosse Ponte para o Futuro? Ai São José podia Temer o pior.

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