O que será do amanhã?



Chacoalhado por denúncias de corrupção, com um presidente que, até aqui, balança mas, não cai e com as ruas em combustão, o Brasil virou uma terra em transe.

É natural que seja assim.

Graças à força das revelações da Lava Jato, o país coloca em xeque um sistema político perverso, que mescla um Estado gigantesco a ação organizada de piratas de colarinho branco, especializados em dilapidar os cofres públicos. É um instante de ruptura. E instantes de ruptura são traumáticos. Basta olhar a história. E o país está passando por um momento de ruptura, com o fim da ordem estabelecida a partir da Nova República e da Constituição Cidadã de 88. Este modelo, com seus acertos e seus erros, se esgotou. Nesse momento delicado, em que nada parece se sustentar em pé, é preciso cautela para não precipitar erros, nem aceitar menos do que é possível. O Estado está podre? É hora de pensar em cortar fora, sem dó, a carne estragada e planejar as bases de um novo Estado, com transparência, modernidade, menos burocracia e mecanismos eficazes de controle para fiscalizar os detentores de cargos públicos.

O governo Temer é carta fora do baralho.

Para olhar o país do futuro, o Brasil após o caos, no entanto, é preciso aprender com os erros e buscar não repeti-los. E está na repetição do passado o risco do novo Brasil. Nesse caso, soa mais verdadeiro o verso de Belchior, morto recentemente: o passado é uma roupa que não nos serve mais. Luiz Inácio Lula da Silva prega a volta de um governo de bem estar social. Puro engodo. O bem estar social foi o biombo que tapou a oucpação do Estado brasileiro por uma quadrilha em que o PT mandou às favas sua cartilha partidária para virar um partideco comum, interessado em enriquecer suas lideranças. João Doria, misto de prefeito e marqueteiro, é um Jânio Quadros moderno, vestido ora de gari, ora de bedel chiliquento, a flertar com as massas revoltadas contra tudo e contra todos. Jair Bolsonaro é o “ó do borogodó”, porta-voz de uma direita da idade da pedra, que sonha com a volta da Ditadura Militar., em nome dos velhos e bons (bons?) tempos. E Aécio Neves? Bem, esse foi para a cucuia, onde devia estar há muito, ao lado de outras figurinhas carimbadas. Não é possível reconstruir o país com modelos esgarçados. Não é possível mudar de olho no espelho retrovisor, copiando modelos que já deram com os burros n'água.

Esse é o maior desafio.

O desafio não é manter Temer ou não. Temer já era.
O desafio é ir além. Sem Temer, a alternativa constitucional é eleger um presidente-tampão. E depois? Manter o calendário de 2018, com eleições diretas para presidente da República e, introduzindo uma novidade, eleger uma Assembleia Nacional Constituinte para lançar as bases de um Estado moderno, menor, mais transparente, que coloque o cidadão --com direitos, mas também deveres-- em primeiro lugar.

Como dizia Belchior, viver é melhor que sonhar. Mas é mais perigoso.

Este artigo foi publicado originalmente na edição impressa do jornal "O Vale" deste final de semana

Comentários

  1. A sempre afiada visao.... Oxala encontremos um verdadeiro lider que possa colocar o Brasil em rumo ao 3 milenio.....

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  2. oxalá ...
    tempo: não é preciso um líder, mas uma mudança coletiva

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