A montanha e o rato
por Julio Codazzi
"A montanha pariu um rato". Foi com essa frase que o presidente Michel Temer (PMDB) tentou desqualificar a gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista, dono da JBS, em meio ao tsunami que atingiu Brasília.
A expressão foi usada por Temer para comemorar o que, na avaliação dele, não é um áudio suficiente para fazer todo o estrago que se imaginava.
Tudo bem. Temos que admitir que o trecho sobre a compra do silêncio de Eduardo Cunha (PMDB) não é tão claro quanto se propagou um dia antes.
Mas isso não permite, nem de longe, achar que foi uma conversa normal, legal.
Em primeiro lugar é preciso ressaltar que o presidente da República recebeu em sua residência oficial, no fim da noite, um empresário alvo de investigação. Esse encontro não foi registrado na agenda oficial e Joesley sequer se identificou na entrada do Palácio Jaburu.
É óbvio que, numa situação dessas, o que iria se discutir não era nada republicano.
Em um dos trechos da conversa, o presidente ouviu o empresário dizer que estaria "segurando" dois juízes em processos nos quais é investigado. Temer respondeu: "ótimo, ótimo".
Em um dos trechos da conversa, o presidente ouviu o empresário dizer que estaria "segurando" dois juízes em processos nos quais é investigado. Temer respondeu: "ótimo, ótimo".
Depois Joesley disse que tinha um informante no MP e que tentava trocar um procurador de um caso em que era investigado. Temer se calou.
Na mesma conversa, Temer indicou que o empresário procurasse, para resolver um problema da JBS, um tal de Rodrigo. No caso, o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB). E o que Rodrigo foi flagrado fazendo dias depois? Recebendo propina.
O presidente ainda autorizou que o empresário resolvesse pendências com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e sugeriu que o Comitê de Política Monetária poderia cortar os juros em um ponto percentual na reunião seguinte, o que de fato aconteceu.
Pois bem. Temer, apenas nessa conversa, teve inúmeras oportunidades para agir dentro do que se espera de um presidente da República. E em nenhuma delas isso ocorreu. Ou se calou ou -- ainda pior -- incentivou algo ilegal.
Agora, tem outra oportunidade de agir como se espera, dele, no cargo de presidente. Renunciar. A montanha não pariu um rato. Mas os ratos precisam deixar Brasília.
Julio Codazzi é editor-executivo do jornal "O Vale".
Este artigo foi publicado originalmente na edição desse jornal no final de semana
Este artigo foi publicado originalmente na edição desse jornal no final de semana
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