Amanhã não tem feira?


Foto aérea do Vicentina by Adenir Britto/PhotoUp Brasil

por Marcos Meirelles

“Vá o que pois for. Minha porta é para o nascente. Não vejo outra banda.”
 (Joaquim Noberto, no conto Luas de Mel, de Guimarães Rosa).

Tenho um carinho especial pelo Parque Vicentina Aranha em São José.
Preservado com afinco pelo ex-prefeito Ednardo de Paula Santos, transformado em parque público pelo ex-prefeito Eduardo Cury, o Vicentina também foi surpreendentemente assumido pelo governo do ex-prefeito Carlinhos Almeida.

Por que a surpresa? 
Porque todos imaginavam que a menina dos olhos da administração petista seria o Parque da Cidade, a maior área verde da cidade, desapropriada pela ex-prefeita Angela Guadagnin e fruto de uma interminável e irracional disputa política com os tucanos.

Em vez disso, Carlinhos empoderou a Afjac (Associação para o Fomento da Arte e da Cultura), outra criação dos tucanos e fruto de uma experiência pioneira em terceirização do gerenciamento de espaços públicos.
Com apoio do governo, a Afjac foi paulatinamente ampliando e diversificando as atividades do Vicentina, sem perder de vista a necessidade de restauração dos prédios históricos.

Em pouco tempo, o domingo no parque em São José virou dia de feira de produtos orgânicos, dia de feira de artesanato, manhãs de jazz, música clássica, samba, shows infantis, finais de semana de feiras literárias e mostras artísticas.

Que essa era a vocação do Vicentina, ninguém nunca jamais duvidou. Mas, em tempos de ranços e ranhetices políticas, muita gente supôs que talvez tivéssemos um despertar adiado por quatro anos. Ou um projeto de parque público gerenciado em banho-maria, como ocorreu nos últimos quatro anos do governo Cury.

O que será do Vicentina na gestão Felício Ramuth?

Se o prefeito souber reconhecer os avanços que ocorreram no parque, o caminho será aprofundar o trabalho que foi feito pela Afjac, mesmo que sob outro modelo de gestão ou em parceria com outra entidade. 
O modelo de ocupação/democratização deste espaço precisa ser replicado em outras áreas públicas e tem que inspirar uma reavaliação do gerenciamento do Parque da Cidade –um patrimônio do município subaproveitado.
Se o governo se prender à métrica do retrovisor, corre o risco de reiniciar do zero um trabalho que rendeu bons frutos para São José.

O Vicentina é de todos os joseenses. 
Ele é do Emanuel Fernandes, vizinho e habitué. É também do Roberto, que mudou seu ponto de guardar carros, depois do avanço da zona azul sob o governo Carlinhos. E é também da Sueli, a militante petista que vende fuxico na esquina. 

Esse espaço público especial, que carrega consigo toda a carga histórica da fase senatorial da história joseense, pode ser um exemplo pontual, necessário em todas as demais áreas em São José, de como construir pontes para o futuro. 
Parafraseando Rosa, basta que nossas portas estejam reabertas para o nascente.


Marcos Meirelles é jornalista e tem um carinho especial pelo Vicentina Aranha.
Este artigo foi publicado originalmente na edição do jornal "O Vale" deste fim de semana

Comentários

  1. Esta terceirização de atividades do poder público criou uma distorção gerencial que precisa ser melhor analisada (e corrigida). Ocorre que, na tentativa de deixar marcas, os prefeitos de plantão acabam deixando minas para a gestão posterior: associações contratadas pela prefeitura com pessoas da confiança do plantonista (e não necessariamente da sociedade) que muitas vezes o novo mandatário não consegue influenciar. Quando isso ocorre, estas associações são menosprezadas e seu papel social sucumbe, com prejuízo para os munícipes. Há inúmeros casos em São José dos Campos: a AJFAC, o antigo CECOMPI, o Pq Tecnológico... E na gestão anterior não se pode esquecer a construção do Centro de Ciências, ao lado do Teatrão, cujos contratos o Felício já anunciou que não manterá. O local já contava com alguma infraestrutura básica, além de duas réplicas em escala real de dinossauros da região. Uma destinação nobre para um espaço antes abandonado. Será que perderemos este também?

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  2. isso ocorre, Wilson Cabral, pq nós, sociedade, entramos no jogo do político de plantão. na verdade, o detentor de um cargo público é um funcionário público eleito pelo cidadão, que deveria agir dessa forma. infelizmente, na maioria dos casos, não é assim

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  3. Concordo Hélcio, mas aí é que se torna necessário o papel da imprensa. Noto que esta fica lidando com temas casuísticos e descumpre o papel de bem informar. Muitos munícipes sequer sabem destas questões das associações e de outras coisas. Sinto que o jornalismo perde cada vez mais seu caráter investigativo (que tem seu custo) e deixa a sociedade à mercê da "pós-verdade"...

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  4. Em tempo, vale comentar também sobre o Centro da Juventude, que ganhou uma ampla programação na gestão passada. O espaço também é gerido pela AJFAC, no entanto, com maior participação da Prefeitura. Entre os vários eventos ocorridos no local destaco o Festival Contaí, que democratizou o acesso à literatura por meio de debates de alto nível. O Centro da Juventude recebia uma média de mil pessoas/dia que usufruíam para fazer caminhada, aulas diversas, entre outras atividades. Esperamos que a atual administração, que até as floreiras tem removido da cidade, não acabe com esse legado. Pra frente é que se anda.

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