Um fio desencapado


São José dos Campos é uma cidade que se orgulha de ser reconhecida como capital da tecnologia e da inovação.

É um status invejável.

A história recente da cidade está ligada à geração de conhecimento, de alta tecnologia, de avanços em diversos campos. A instalação do CTA e a criação do ITA foram, décadas atrás, o pontapé inicial desse jogo, que gerou a indústria aeronáutica brasileira, cujo carro-chefe é a Embraer, uma das empresas mais avançadas do mundo em tecnologia em seu setor. Mas a Embraer não é um caso isolado. Ondas de desenvolvimento se sucedem em São José. A cidade projeta satélites e foguetes, fabrica pele sintética e combustível limpo. Incubadoras de tecnologia dão guarida a novas ideias, novas fronteiras, novas e inúmeras possibilidades. O Parque Tecnológico é encarado como um novo CTA nesse xadrez de inovação. São José é um admirável mundo novo.

Com um fio desencapado.

Esse potencial tecnológico, na maior parte dos casos, está guardado atrás dos muros das empresas, dos institutos de pesquisa, das incubadoras. Não está no dia a dia da cidade, não faz parte do cotidiano do cidadão. É uma pena.
Na cidade da tecnologia, a rede pública de Saúde não está inteiramente interligada, o que impede que o prontuário de um paciente seja consultado na UBS de um bairro vizinho. Passageiros esperam nos pontos sem saber se o ônibus está atrasado ou não. Semáforos em avenidas importantes não operam em onda verde. Câmeras do sistema de vigilância do COI têm pontos cegos, bloqueadas por árvores e placas de sinalização.

O que tudo isso tem a ver?

Entra prefeito e sai prefeito, a promessa é repetida, como um karma: vamos apostar na tecnologia e na inovação para o bem-estar da população.
Emanuel Fernandes (PSDB) sonhou com isso. Eduardo Cury (PSDB) queria um sistema de ponta no transporte coletivo para colocar a tecnologia a serviço do operário, do estudante, da dona de casa que passariam a saber o tempo de espera de cada linha por meio de um painel instalado nos pontos, acionado a partir de um GPS. Carlinhos Almeida (PT) idealizou a educação do futuro no programa Escola Interativa, cujo maior saldo até aqui são 3.000 tablets quebrados e suspeitas de superfaturamento.

Tradução: todos bateram na trave.

Agora, Felício Ramuth (PSDB) bate na mesma tecla. Criou a Secretaria da Inovação e Desenvolvimento Econômico, a cargo de Alberto Mano Marques, de quem espera uma Lei de Inovação dentro do projeto de 100 Dias, capaz de atrair empresas de tecnologia para dentro da Prefeitura de São José. E fala em usar a tecnologia dos balões espiões, desenvolvida pela Altave Omni, para fiscalizar a ocupação de bairros clandestinos e até ajudar em operações de segurança. É uma boa aposta. Dará certo?

Eu espero que sim.
Após quatro anos de estagnação, São José precisa sonhar alto, precisa romper a inércia e entrar no campo das cidades inteligentes. Não para ter status, nem para sonhar alto. Mas para garantir, no dia a dia, que a tecnologia esteja a serviço do cidadão. Mano promete que vai dar certo. Tomara ...

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