Dipirona versus violino?


Felício Ramuth (PSDB) teve diversos acertos nestes primeiros 11 dias como prefeito de São José dos Campos. Mas cometeu um erro: eliminou, de uma canetada só, a Orquestra Sinfônica da cidade, um projeto de 10 anos, nascido no governo Eduardo Cury (PSDB).

Qual o motivo?

Bem, segundo o governo, os R$ 2,5 milhões gastos anualmente com a Sinfônica vão ser usados em áreas estratégicas, como Saúde e Educação. Chegou a dizer que a economia é necessária para comprar Dipirona para a rede pública de Saúde.

Eu sempre desconfiei que havia um tucano infiltrado no alto escalão do governo Carlinhos Almeida (PT), com a missão clara de sabotar a administração. Só isso explicava tantas bobagens cometidas. Agora, começo a desconfiar que tem um militante do PT infiltrado na equipe de Felício. Só isso explica a decisão drástica, tornada pública por meio de um “live” no facebook, de cortar a Orquestra. Não havia um plano B? Não era possível estabelecer um novo teto de gastos? Ou, talvez, contratar um maestro que ganhasse menos? Ou, sei lá, que fosse menos simpático ao PT?

Bem, brincadeiras à parte, gestão eficiente vai além de cortar gastos ...

Agora, fazendo uma análise além do básico, Felício cometeu dois erros de comunicação nesse processo. Primeiro, foi o porta-voz da má notícia. Em outras palavras, trouxe a decisão --e a crise-- para o seu colo. A claque vai dizer que ele foi corajoso. Os especialistas em política e comunicação sabem: ele foi é atabalhoado. Segundo, em sua explicação simplista, música versus Dipirona, Felício caiu na armadilha de antepor pobre contra rico --um dos simulacros sagrados do PT, que tanta alegria deu a Luiz Inácio Lula da Silva, mas que, sejamos francos, não passa de demagogia barata.
Bem, bobagem feita, vai ter que segurar o rojão, se amparando na torcida do Fla (ou do Flu, tanto faz). Afinal, tem sempre gente que aplaude, seja gol, seja canelada.

Acho que falta ainda a Felício uma coisa que sempre existiu e foi importante nos governos de Emanuel Fernandes (PSDB), considerado por muitos como o melhor prefeito de São José e padrinho político de Cury e Felício: falta o pessoal da cozinha. Quem são eles? Bem, são aquelas duas a três pessoas de confiança que funcionam como uma espécie de ombudsman do governo, como consciências críticas, discordando do chefe, ponderando aqui, debatendo ali, retomando a discussão. Na primeira gestão de Emanuel, por exemplo, o pessoal da cozinha era composto por Juana Blanco e Antonio Alwan. É papel do pessoal da cozinha amadurecer decisões difíceis, criar rotas menos danosas para o inevitável, evitar que o aplauso da claque fique tão alto que não permita ouvir a lógica e a razão.
Só o exercício do poder criar essa mecânica. Felício vem de uma boa escola política, vai saber construir as suas estruturas de governo.

Bem, esta é a minha opinião. Aceito opiniões divergentes.
Sei que a coisa está feia e que Felício precisa cortar gastos e gerir tostão a tostão. Mas, nesse caso, acho que ele derrapou. Dipirona versus violino? Nós contra eles? Puxa, isso é simplista demais. A gente pode mais que isso ...

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