Bailamos na curva?


Angela & Carlinhos (Meon)

Não tenho procuração para defender ninguém, mas há muito tempo aprendi que julgar os outros é uma tarefa das mais perigosas.
Principalmente nesta época dominada pelas redes sociais.
Não sou petista, nem tenho alinhamento com o PT. Ao contrário. Minhas primeiras críticas ao PT, como jornalista, são logo após à fundação do partido, no início dos anos 80. Critiquei o PT quando a moda era falar bem do PT. Agora, com todo mundo criticando, é fácil. Mas nunca acreditei –e não acredito—que ser petista ou ser simpático ao PT é sinônimo de imbecil, ladrão, atrasado, retrógrado ou sei lá o que. Não gosto de generalizações. Tenho amigos ligados ao PT. Bons amigos. E tenho divergências com muita gente do PT. A mesma regra vale para quem é ligado a outros partidos, nesta sopa de letrinhas partidária que existe no Brasil.
Sempre tento e algumas vezes consigo separar o joio do trigo.
Afinal, tem gente boa e tem imbecil em todo o espectro ideológico.
Essa introdução seria desnecessária em outros tempos não fosse o Fla-Flu ideológico destes tempos bicudos. A razão é uma só: vou defender o que muita gente acha indefensável.
Este artigo é um lamento tardio, aliás bem tardio, frente às reações que marcaram a derrota eleitoral de Angela Guadagnin (PT), que não voltou para a Câmara de São José em 2017.
Não votei nela, nem agora, nem em eleições passadas. Não nutrimos relação de amizade, nem frequentamos os mesmos ambientes sociais. Quando prefeita, de 93 a 96, Angela respondeu a três CEIs na Câmara, duas delas abertas a partir de reportagens coordenadas por mim, à época  editor-chefe do caderno regional da “Folha de S. Paulo”, o “FolhaVale”. Como editor de jornal, estampei na primeira página a sequência de fotos da então deputada federal Angela Guadagnin no episódio que ficou famoso como a Dança da Pizza. Era notícia. Em eleições seguintes, Angela moveu baciadas de ações contra jornais que eu editava pela simples menção da Dança. Nenhuma prosperou. Como vereadora, esperava mais da atuação dela. Fez pouco. Virou, sim, uma espécie de eminência parda da Secretaria da Saúde do governo Carlinhos Almeida (PT).  Foi pouco, muito pouco, pouco mesmo, como dizia Geraldo José de Almeida, o mestre dos narradores de futebol.
Mas lembro do tempo que Angela tinha votos. E tinha respeito.
E lembro que ela enterrou sua carreira não por escárnio, como muitos pregam, mas por uma bobagem sem tamanho, feita sem pensar. Em março de 2006, festejou a absolvição do deputado João Magno (PT) no processo do Mensalão com uma dancinha sem graça no plenário da Câmara Federal. Era madrugada, mas as câmeras estavam ligadas. E flagraram a dança e a dançarina, que virou símbolo da impunidade vestida de amarelo. Demorou até que ela entendesse a bobagem que fez. Quando percebeu, pediu desculpas. Não adiantou. Foi colocada na geladeira pelo próprio PT e, em seguida, pelo eleitor. 
Angela paga até hoje pelo seu erro.
Nada disso faz de Angela merecedora das ofensas morais que recebeu nas redes sociais. Angela foi uma prefeita mediana, uma deputada equivocada e uma vereadora que não deixou saudade. Merece a derrota nas urnas. Merece a crítica. Merece ser lembrada pela Dança da Pizza, afinal, isso é história. Mas ser ofendida sem dó, nem piedade, pelo prazer da ofensa? Aí, mais que falta de educação, é falta de argumento. E estamos carentes de argumentos que possam explicar o Brasil fora da caixa, mostrar que um país habitado por mais de 200 milhões pessoas não cabe em uma polarização estéril. O Brasil é mais, nós, brasileiros, somos mais que isso.
Ao contrário do que o próprio Lula e o PT estimularam ao longo de anos e anos, política não é Fla-Flu, não é guerra, não é nós contra eles, essa bobajada toda.
Angela foi reduzida a 2.291 votos, virou segunda suplente da coligação PT, PSDC e PP, faz, hoje, parte do passado. Com a experiência que tem, poderia ter feito diferença na Câmara. Não fez.  No fim, quem dançou foi ela. E quem acha que se vingou dela por meio de adjetivos, palavrões e ofensas.

Comentários

  1. Há vida inteligente na imprensa, embora repetidas vezes somos levados a mesmice de informações direcionadas por interesses outros. Informar os que pensam é antes de mais nada respeitar o leitor. Obrigado pelo artigo, de quem sempre criticou o mal feito e que agora esta no governo com a missão de acertar, ainda que em outra cidade.

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  2. obrigado pelo elogio, espero poder contar com você sempre por aqui.
    mas esclareço: não estou em nenhuma esfera de governo, nem em outra cidade. estou à frente de uma empresa de assessoria e consultoria de imprensa que criei, chamada Matéria Consultoria & Mídia, com atuação em São José dos Campos, Vale do Paraíba e na Grande São Paulo. e criei esse blog para abrir um espaço de análise e debate sobre temas que interferem em nossa cidade e em nossa região. abraço

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